Críticas

Crítica | Meu Tio Quase Perfeito

O título da mais nova comédia brasileira diz muito sobre Um Tio Quase Perfeito. Apenas estas quatro palavras remetem a uma centena de longas que já foram vistos, revistos e refeitos. De cara o longa já deixa bem claro todas as suas pretensões, ainda que essas sejam bem baixas, o filme do começo ao fim, do seu título aos créditos finais busca a inocência de uma comédia bastante comum.

O longa começa com pequenas cenas do protagonista, Tony (Marcus Majella), aplicando golpes e trabalhando nos mais ridículos empregos. Uma música alegre e descontraída passa a tocar. Os créditos iniciais alternam com essas primeiras imagens. E um Tio Quase Perfeito poderia muito bem ser uma comédia dos anos 1980 ou 1990 que passaria na televisão numa tarde qualquer.

Essa é realmente a referência do filme de Pedro Antonio, e para isso utiliza-se de todos os clichês do gênero. Um Tio Quase Perfeito investe numa clássica premissa cômica, um personagem desastrado que de repente devetomar conta de uma série de crianças que parecem mais responsáveis que ele mesmo. O longa assume essa narrativa com o objetivo de construir seu humor e valores da forma mais simples e objetiva, alcançando uma comédia inocente que não se vende para gerar riso de forma fácil.

Um Tio Quase Perfeito entende perfeitamente que sua funcionalidade está totalmente ligada ao bom desenvolvimento de sua narrativa, assim o longa compreende que seu objetivo é se esforçar para que sejam estabelecidas bases sólidas de seu texto dramático. Um ponto bastante interessante nesse sentido é a concisão de um Tio Quase Perfeito, como coloca rapidamente seu protagonista no conflito narrativo sem deixar que o personagem deixe de ser desenvolvido. Logo nos primeiros minutos Tony já é despejado e sua mãe (outra trambiqueira) sugere a hospedagem na casa de sua outra filha, alguém que o protagonista tem uma eterna briga. Lá eles poderão ter um lugar para ficar desde que Tony cuide de seus sobrinhos.

Desde muito cedo o filme vai tecendo a relação entre Tony e aquelas crianças sempre ressaltando o comportamento infantil daquele adulto. A tônica do longa é justamente essa, a forma como Tony pode amadurecer convivendo com pessoas, teoricamente, menos maduras do que ele. Um Tio Quase Perfeito vai tirando humor dessas situações e das tentativas do protagonista em ser alguém melhor. É prazeroso como essa relação é bem construída e essa transição do personagem parece real pela ternura que o elenco mirim estabelece com o protagonista. Passa a ser completamente crível aquela preocupação de um em relação ao outro e isso amarra muito bem a narrativa.

Com consistência, Um Tio Quase Perfeito faz com que tudo gire em torno dessa relação emocional entre crianças e Tony, e principalmente na figura de seu protagonista como um ator de comédia. Marcus Majella chama o filme todo para si, sem se contentar apenas em repetir seus mais diversos papéis na TV e no cinema. Muito longe da caricatura de Ferdidando – seu personagem mais conhecido, Majella constrói realmente um personagem crível, engraçado e muito inocente, o humor é até um pouco infantil por essa aproximação do personagem com aquelas crianças, mas Um Tio Quase Perfeito nunca se deixa levar para um lado mais bobo, em que o humor estaria aliado à gritaria, ao uso de palavrões e às piadas fáceis.

É bem verdade que o filme carrega uma série de clichês, entre eles alguns muito próprios do cinema de comédia nacional. Por exemplo, o humor com a repulsa diante da classe política, encarnada na figura do pai das crianças, um homem sempre distante dos filhos por estar envolvido com cargos políticos e eleições, a referência a esse personagem é apenas uma muleta para mostrar esse vazio afetiva, aliando isso à contemporânea ojeriza para com os político. Ou a figura da mãe de classe média, tão preocupada com o trabalho que deixa seus filhos em segundo plano, um estereótipo a ser combatido, mas extremamente utilizado pelo filme, apenas invertendo a relação do homem muito ocupado para a família.

Por essas e outras Um Tio Quase Perfeito não consegue alçar voos maiores, há também a figura de um bandido que ameaça Tony a todo o momento, algo que realmente parece ter saído de uma comédia americana. Todavia, o filme compreende muito bem seu trabalho, uma diversão leve e descompromissada que visa o sustento emocional entre protagonista e suas crianças.

Se essa falta de pretensão está na eficiente, mas pouco imaginativa direção do diretor, com planos fechados, centrando seu humor apenas no texto fílmico e no talento de seus atores; ou na direção de arte que aproxima o longa de um visual bastante televisivo. Um Tio Quase Perfeito comprova que uma boa premissa cômica, quando bem trabalhada, pode funcionar em qualquer lugar do planeta, inclusive por aqui. Se o longa tem seus defeitos, também está longe de desagradar, podendo render boas risadas

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