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Antes da 3ª temporada, vale lembrar: Mr. Robot ainda é a série mais importante da TV

Em tempos de Peak TV, quando a quantidade de boa televisão é simplesmente monumental demais para que possamos acompanhar tudo, ou mesmo a maioria, é difícil cravar uma série que seja maior, melhor ou mais importante que as outras.

O título que deixará a marca mais indelével na nossa cultura é provavelmente Game of Thrones, enquanto, dependendo de para quem você perguntar, séries como The Americans, The Handmaid’s Tale ou The Crown podem levar o prêmio de melhores no ar atualmente. Qualidade é diferente de importância, no entanto, e este humilde artigo busca estabelecer uma outra produção como a mais importante da televisão no momento: Mr. Robot, da USA.

Eu “dormi no ponto” com Mr. Robot. Quando finalmente me decidi por assisti-la, alguns meses atrás, duas temporadas já haviam sido lançadas, e a data de lançamento da terceira se aproximava. A estreia, aliás, ocorre nessa quarta (11) nos EUA, e da quinta (12) para a sexta (13), às 0h, no Brasil, pelo canal Space.

Conforme os episódios se passavam e a trama e os personagens da série de Sam Esmail se embaraçavam cada vez mais em tela, num quadro de caos perfeito, ficou claro que nenhum outro título inova mais, quebra mais o padrão de produção televisivo, do que Mr. Robot.

Mr. Robot
Mr. Robot

A produção da USA não tem o visual ou o feeling que você espera de uma série de suspense ou thriller tecnológico para a TV. Os enquadramentos descentralizados, que por vezes deixam os personagens nas beiras do espaço fotografado, assim como as cores mudas e o uso de extensivos e precisos movimentos de câmera, viraram marca do trabalho do cinematógrafo Tod Campbell, que assinou 21 dos 22 episódios exibidos até agora. A trilha de Mac Quayle serpenteia em torno da encenação como um contraste de adrenalina para uma história que, por si só, raramente sai da inércia. Uma história que quase não é uma história, na realidade.

Ao fazer a crônica da “revolução” de Elliot e seus companheiros ao hackearem a maior corporação do mundo ficcional (mas nem tanto) da série, Mr. Robot é um exercício de reflexão própria muito mais do que uma história a ser contada. Os roteiros de Esmail usam os personagens como força propulsora de um retrato do mundo complicado em que eles vivem, acertando uma verdadeira estaca no coração das questões mais fundamentais do contemporâneo.

Mr. Robot não é só sobre perda de privacidade ou as consequências da mecanização do mundo – reflexões assim podem ser encontradas em virtualmente qualquer ficção científica moderna, porque são inescapáveis. A série de Sam Esmail, ao invés disso, é sobre a solidão essencial do século XXI; sobre a hipocrisia intrínseca de qualquer organização ou grupo social; sobre a superficialidade do próprio conceito de civilização; sobre a profundidade, em contraste, das noções de tempo e familiaridade que nos ligam uns aos outros.

Mr. Robot
Mr. Robot

A série retrata uma geração com discurso revolucionário e os meios para concretizá-lo, mas não é ingênua o bastante para esconder o medo e o apego ao conforto, ao familiar, que essa mesma geração alimenta dentro de si. A 2ª temporada de Mr. Robot incomoda muita gente, seja por ir cada vez mais fundo nos muitas vezes indecifráveis simbolismos da história ou por lançar a sombra de uma dúvida sobre o impulso visceral e revoltado dos episódios iniciais. Sem essa dúvida e esses simbolismos, no entanto, Mr. Robot não seria tão fundamental, tão urgente, quanto é.

Sua importância está fundamentada na honestidade com a qual trata o sentimento de revolução, e, ainda mais essencialmente, o que vem depois dela. Mr. Robot joga para escanteio idealismos bobos e ícones fáceis, nunca subestima a inteligência do espectador, e constrói seus personagens com exemplar diversidade e igualdade, buscando desesperadamente entender e decifrar cada um deles, donos de suas próprias forças, falhas e idiossincrasias.

The Americans, The Handmaid’s Tale, The Crown e Game of Thrones são excepcionais (mais excepcionais que Mr. Robot, em muitos sentidos), e tocam em questões vitais. São paradas obrigatórias no percurso de quem quer se dizer atualizado na cultura pop do nosso tempo. O que nenhuma delas faz, e Mr. Robot sim, é destroçar o próprio cerne do que significa uma série de TV, num sentido visual, narrativo e artístico. Se você só puder assistir uma série nesse momento sem precedentes de televisão que vivemos, pobre de você – mas assista Mr. Robot.

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