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Crítica | Stranger Things volta com identidade própria e sem abandonar suas referências

Stranger Things estreou sua primeira temporada e já havia se tornado bastante popular após o primeiro final de semana em cartaz na Netflix. Depois de agradar o público referenciando clássicos da cultura pop dos anos 80, a série volta em sua segunda temporada com a difícil missão de se manter no mesmo nível. Stranger Things 2 não só traz de volta tudo o que a fez se popularizar tão rapidamente como adicionou preciosas expansões ao seu universo fictício. Esta é uma temporada de transição, de um caso isolado em Hawkins para algo muito maior.

Os primeiros episódios respeitam o clima da primeira temporada, mostrando ao espectador que seus personagens estão de volta à normalidade um ano depois, em 1984. À medida em que as consequências do ano anterior vão se tornando mais evidentes, descobrimos que essa normalidade é uma fachada, e o que aconteceu na verdade foi um grande acúmulo de relações não saudáveis depois dos personagens serem forçados a manter seus segredos. Assim, a série aproveita para resolver suas pontas soltas e mostrar que ouviu os fãs. As consequências do arco de Barb (Shannon Purser), que pareciam terem sido esquecidas na primeira temporada são mostradas finalmente, enquanto a trama começa a caminhar e levar seus personagens para situações muito parecidas com o desenrolar da primeira temporada. Eleven (Millie Bobby Brown), por exemplo, está novamente vivendo uma espécie de prisão mantida por uma nova figura paterna.

Conforme a evolução da trama, Stranger Things vai deixando de lado suas referências ao mundo pop (embora não completamente) para dar espaço à sua própria identidade. A própria série explicita esses passos, muitas vezes em uma brincadeira de intertextualidade. Ao descobrir a história secreta dos protagonistas, uma nova personagem chega dizer que foi divertida ouvi-la, mesmo que alguns momentos não tenham sido muito originais.

A mudança na trama também é evidenciada quando um jogo de câmera idêntico à temporada anterior mostra Nancy (Natalia Dyer) e Jonathan (Charlie Heaton) em um momento similar ao passado, mas de certa maneira oposta, mostrando de forma bem orgânica que por mais que pareça que você está vendo a mesma história, ela tem lugares diferentes para te levar, e ela está fazendo isso. Dessa forma a narrativa ganha força própria ao se auto referenciar, de forma parecida com a qual foi feita com o sétimo episódio de Star Wars e o quinto filme da franquia Piratas do Caribe, ambos da Disney. Ainda, a série respeita suas origens, continuando análoga à filmes referenciados com mais força na primeira temporada.

As atuações continuam entre boas e ótimas. Millie Bobby Brown continua surpreendendo como Eleven, assim como as atuações de todo o elenco infantil, reforçado por Sadie Sink como Mad Max, trazendo mais uma personagem feminina forte para a trama. Mesmo com Sean Astin (O Senhor dos Anéis, Os Goonies) entrando para o elenco, a interpretação masculina com mais força dos novos personagens fica por conta de Drace Montgomery (Power Rangers) como Billy, irmão de Max, mostrando um forte antagonista fora do absurdo onde a série se apoia para trazer suas problemáticas. Winona Ryder ainda tem o maior alcance dentre todos do elenco, amadurecendo Joyce e respeitando muita sua ótima atuação na temporada anterior.

Diferente de Os Defensores, a série mantém seu ritmo até o final, conseguindo ao mesmo tempo em que assusta, divertir. Aqueles que gostaram de seu formato, curto para uma série e longo para um filme, vão ficar felizes por conseguirem maratonar seus episódios sem o sentimento de estar vendo uma narrativa que se arrasta ou delonga demais. Mesmo sua reintrodução é rápida, e ainda assim bastante eficaz.

Os diálogos não são surpreendentes, mas são afiados, sempre levando a narrativa para frente ou construindo seus personagens. Os já conhecidos mostram seu amadurecimento enquanto os novos vão se misturando a história de forma sutil e nem um pouco forçada, em um roteiro bem fechado que, depois de responder velhas perguntas e criar novas, assim como o primeiro ano termina de forma satisfatória, com arco completo, porém aberto para grandes novas possibilidades, mostrando que seu universo pode ser ainda mais expandido.

Stranger Things 2 tem como desvantagem de seu primeiro arco não nos pegar de surpresa, mas ainda é uma nova história que chega de maneira familiar, e deve agradar à todos que gostaram da temporada anterior. Usando suas próprias muletas para ter força própria, a série ganha originalidade mesmo se apoiando em conceitos clássicos da ficção científica, como a “colmeia” ou “consciência coletiva”. O clima continua leve, mas vai ficando mais sombrio, seguindo a linha da temporada anterior.

A série acerta na propaganda quando chama a segunda temporada de Stranger Things 2, pois ao criar um novo arco tão fechado, mostra que é um longo filme de continuação de um longo filme, dividido dessa vez em 9 episódios, e não 8, dando um gostinho maior para os fãs e mostrando que não só a Netflix presta atenção nas reações ao seu conteúdo, como que a série ainda tem muita coisa pra mostrar.

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