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Crítica | Dark - 1ª Temporada

As reciclagens de fórmulas episódicas constroem as produções em formato de série com base em eventos narrativos comuns, mas que buscam sua própria autonomia – seja no roteiro, da direção, nas referências ou no direcionamento do roteiro -, afirmando assim a capacidade de acrescentar novos elementos e dentro do próprio escapismo, manifestar-se para além do considerado genérico.

Assim é Dark, série original da Netflix, a primeira falada inteiramente no idioma alemão. Com 10 episódios, a produção alemã se concentra em contar a história do desaparecimento de crianças perto de uma caverna, localizada próxima a uma usina nuclear. A partir do desaparecimento, as famílias das crianças partem em busca de respostas, já que os sumiços não apresentarem quaisquer vestígios ou traços para serem seguidos.

A premissa é básica e como já mencionada, formulada. Stranger Things, outra produção original da Netlix começa contando a história do sumiço de um garoto. Mas as divergências entre elas são em seus gêneros: enquanto a americana utiliza da fantasia, do horror e até mesmo da pureza infantil para caminhar, Dark – título sugestivo – investe no desenvolvimento de uma história envolvendo os conflitos entre ciência x religião, estudos científicos principalmente sobre o tempo.

Dentro dessas famílias, os personagens principais é a família Kahnwald, com Jonas (Louis Hofman) e Hannah (Maja Schone), a família Nielsen, com Ulrich (Oliver Masucci), Katharina (Jordis Triebel), Martha (Lisa Vicari), Magnus (Moritz Jahn) e Mikkel (Daan Lennard Liebrenz), além da família Doppler, com Charlotte (Karoline Eichorn) e Peter (Stephan Kampwirth). Todas essas famílias, por conta de a cidade ser pequena, se conhecem e possuem certos segredos individuais guardados a sete chaves. E por conta da iniciativa da série de utilizar a viagem no tempo – seja na concepção física ou filosófica – estes segredos acabam sendo elementos chaves no desenrolar dos episódios, creditando grande parte relativa ao passado da família de Charlotte. Policial investigativa, seu envolvimento com o caso das crianças desaparecidas evoluí cada vez que junta peças novas e as correspondem a evidências do passado.

Com essa iniciativa de contrapesos sobre o estudo da ciência em relação ao tempo e espaço, dobrando e assim, podendo ir para o passado, Dark possui uma considerável expressão narrativa quando se exime de pesar esse conceito na série. Em fato, acredito que a produção alemã se concentrou mais em esmiuçar como que as pessoas lidam consigo mesmas mediante constatações que as fazem se colocar em situações já antes vividas. É o olhar no espelho e a pesquisa dentro da memória para buscar compreensão em seus próprios atos e na síntese de toda a história envolvendo os desaparecimentos e a caverna. Há duas linhas narrativas na série – 1986 e 2019 – com ambas se correlacionando e sendo montadas na edição para argumentar certos aspectos presentes somente em uma ou outra. Por exemplo, as cenas no passado são para contar como eram os personagens que são adultos e mais velhos em 2019, além de também importar o conto de um experimento de “viagem no tempo” que sucedeu corretamente e como isso está afetando o presente.

Por conta dessas duplas linhas do tempo e também linhas narrativas, Dark em alguns momentos oscila ao não expressar de uma maneira denotada qual a finalidade para determinadas sequências. Há momentos em que o roteiro poderia ser mais objetivo e completo, complementando o cerco principal. Não que as subtramas sejam totalmente desnecessárias. Elas servem como base para as motivações dos personagens, sendo eles envolvidos em romances, em conflitos internos regentes a si mesmos ou à própria família. No entanto, assim que a série chega às suas conclusões, as inserções dessas pequenas adjacências atrapalham o principal foco narrativo. Reiterando que não é desnecessário. Sua relevância é importante para cooperar em uma caracterização coerente, mas há um peso que atrapalha o andamento dos episódios finais.

As atuações entram em uma observação. Atores e atrizes de origem alemã não possuem a mesma escola de atuação que outros núcleos do Velho Continente, como italianos, espanhóis ou franceses. Mais frios, porém, são escalonados a impostarem uma voz mais forte e alta. Não que isso seja um fator que diminua ou sobrevalorize as atuações como um todo; é só uma observação verificada ao longo da série. A maioria delas foram boas, atendendo às características explícitas e implícitas. E assim como em Stranger Things, o elenco mirim-juvenil é evidenciado com mais tempo de cena e disponibilizando performances intensas, principalmente o garoto Mikkel, responsável por ser um fluxo dos principais eventos do filme. A dúvida e a mistura da inocência com um certo tom de ironia sobre as coisas.

Dark, série original da Netflix com produção 100% alemã consegue imprimir certos aspectos novos aos gêneros da ficção científica e da aventura juvenil, valorizando esses temas com o objetivo de credenciar referências visuais mais frias e concentradas, buscando se basear no desenvolvimento da narrativa como um todo, mesmo que possua problemas em definir sua conclusão.

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