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Sam Raimi ou Jon Watts: Qual o melhor diretor de filmes do Homem-Aranha?

Ao longo de uma jornada de 17 anos pelos cinemas, o Homem-Aranha teve 3 diretores em suas fases solo no live-action. Sam Raimi comandou a trilogia com Tobey Maguire, Marc Webb tentou reinventar a fórmula com os dois filmes com Andrew Garfield e Jon Watts atualmente é o dono da franquia (sob a asa de Kevin Feige, claro), que traz Tom Holland no centro.

Como Marc Webb foi o resultado mais irregular até agora, e Watts se permanece no barco com o sucesso dos dois filmes do Homem-Aranha no MCU, é natural que os fãs agora o comparem com o trabalho de Sam Raimi; que teve o resultado mais elogiado por anos. E ainda assim, mesmo com Homem-Aranha: De Volta ao Lar e Homem-Aranha: Longe de Casa, Sam Raimi ainda é o melhor? A resposta é um simples e direto, “óbvio que sim”.

Falar sobre a importância de Sam Raimi para o Homem-Aranha é falar sobre seu impacto na transposição de super-heróis para o cinema no geral. O sucesso de Homem-Aranha em 2002 (e também impulsionado por Blade e o primeiro X-Men) ajudaram a solidificar o nome da Marvel em Hollywood. Isso porque Sam Raimi entendeu como traduzir os elementos mais fantasiosos e sobressaltados dos quadrinhos em uma narrativa cinematográfica que abriu portas para diversos fãs conhecerem o herói pela primeira vez (incluindo este que vos escreve).

Mas o que realmente permanece após tantos anos é o talento de Raimi. Saído do cinema de terror trash de A Morte do Demônio, Sam Raimi é um autor, e vemos traços de sua imaginação fértil em diversos quadros da trilogia Homem-Aranha. Mesmo nos momentos mais emocionais, Raimi aposta em soluções criativas (como montagens e enquadramentos elaborados) para traduzir os sentimentos dos personagens, que ficam mais fortes no segundo filme. Há até mesmo momentos que jamais apareceriam em filmes do MCU de hoje em dia, como quando Raimi literalmente parou Homem-Aranha 3 por uns 4 minutos de pura música para mostrar o nascimento do Homem-Areia ou a cena que literalmente é derivada de um terror gore ao retratar o ataque cruel dos tentáculos do Doutor Octopus em Homem-Aranha 2. É uma direção com peso de autor; claro, Raimi não é um Stanley Kubrick ou Terence Malick, mas é um dos melhores que o gênero já trouxe.

O grande destaque fica para as cenas de ação, claro. Principalmente no segundo filme da trilogia (ainda a melhor aventura do herói nos cinemas, façam-me o favor), Raimi usa efeitos visuais e câmeras alucinadas para traduzir a pancadaria épica do Homem-Aranha contra o Doutor Octoups. O ato final em cima de um trem elevado é o perfeito exemplo de como se levar ação dos quadrinhos para as telas, contando com uma mise en scene inteligente, fotografia dinâmica e uma trilha sonora eletrizante. Mesmo no criticado terceiro filme, ainda podemos ver o olhar de Raimi para algo mais característico – seja nas lutas do Aranha contra Venom, Homem-Areia e Duende Verde, ou até na controversa sequência do Peter Emo. Mesmo que seja boba, é um bobo feito com personalidade, e que abraça completamente uma ideia.

Sam Raimi é pura personalidade, e com conteúdo.

O funcionário de Kevin Feige

Quando chegamos a Jon Watts… Bem, ele é apenas mais um funcionário da Marvel Studios. É bem sabido que Kevin Feige busca por nomes que sejam menos conhecidos, garantindo uma força muito maior do produtor do que o cineasta por trás das câmeras. Isso garante um trabalho muito seguro e nada impressionante em De Volta ao Lar e Longe de Casa.

São filmes visualmente mais pobres do que a trilogia de Raimi, apostando na paleta de cores menos contrastada e que segue o padrão estabelecido pelos irmãos Russo – a pior herança da dupla no MCU. A mão de Watts depende constantemente de efeitos visuais, que por algum motivo até passam pelo traje do herói, tornando-o mais borrachudo e evidentemente artificial. Isso se reflete nas cenas de ação, das mais genéricas e desinteressantes que o MCU já viu, e a mistura de CGI ruim com paleta de cores pobre ajuda a criar esse tédio visual – que é melhorado em Longe de Casa, principalmente com as ilusões de Mysterio, mas ainda é algo no máximo mediano.

Para não dizer que o trabalho de Watt é completamente descartável, ele ao menos é capaz de criar um certo clima adolescente entre o elenco. Não há nada de John Hughes como Feige e metade dos blogs de crítica de cinema adoram exacerbar, mas é uma abordagem mais leve e que valoriza os problemas de colegial – algo que a trilogia de Raimi passou muito rápido no primeiro filme.

É, sim, injusto comparar Sam Raimi com Jon Watts. Um teve muito mais experiência e amadurecimento com a linguagem cinematográfica, enquanto outro serve apenas para entregar o básico enlatado que o MCU requer. Não é culpa de Watts, afinal são poucos os diretores que passaram pelo gênero de super-heróis que têm a moral de poder serem comparados com Raimi.

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