Críticas

Crítica | Sexo, Amor e Terapia

Ao mesmo tempo em que o cinema mundial dita moda – em vestuário, comportamento, ideologia, etc – aos espectadores, também segue moda de certas tendências iniciadas por determinados filmes. Temos como exemplos, o ciclo de filmes de ficção-científica devido ao sucesso de Star Wars (1977), ou o de filmes de zumbis iniciado com o clássico do gênero A Noite dos Mortos Vivos (1968).

Atualmente, a moda são filmes de dramas e thrillers eróticos que incluem cenas de sexo explícito e/ou de sadomasoquismo que não devem nada a produções da indústria de filmes pornográficos. Os exemplos mais conhecidos são Ninfomaníaca (de Lars Von Tier, 2013), o sucesso Cinquenta Tons de Cinza (Sam Taylor-Johnson, 2015) e o recente Love (Gaspar Noé, 2015) que causou o maior frisson ao ser exibido no último Festival de Cannes e em 3-D!

Em Sexo, Amor e Terapia, Judith Chabrier (a linda Sophie Marceau, de Coração Valente) é uma executiva que não tem o menor “grilo na cuca” no que diz respeito à sexualidade, tanto que não tem nenhuma inibição de fazer amor com quem quer que seja e em qualquer lugar. Isso lhe traz problemas no trabalho, pois ela transa com todos os clientes da firma, o que faz com que seja despedida. Ela vai à casa de seu tio Michel (André Wilms, de Filhos da Guerra) que lhe dá um ultimato: ou arranja um emprego em oito dias ou vai embora.

O psicólogo de casais Lambert Levallois (o cantor Patrick Bruel, de Sabrina), assim como Judith, é também um viciado em sexo. Mas, ao contrário dela, tem muitos “grilos na cuca” quanto à sua sexualidade a ponto de frequentar um grupo de auto-ajuda nos moldes de Alcoólicos Anônimos (AA) para conter seus impulsos sexuais. Um dia, a sócia de Lambert no consultório precisa viajar devido a um problema familiar e ele deve encontrar uma substituta para ajudá-lo a atender seus pacientes. E a contratada é ninguém menos que Judith. Ambos atendem os pacientes ao mesmo tempo em que iniciam um enrolado relacionamento.

Inicialmente, Sexo, Amor e Terapia era um projeto de uma minissérie para a televisão que foi abandonado. Porém, a diretora Tonie Marshall (de Instituto de Beleza Vênus) gostou do roteiro e decidiu levar a história da tela pequena para a tela grande. Embora não tenha sido essa a intenção, a verdade é que o filme acaba por ser uma paródia dessa atual tendência erótica-pornográfica-sado-masoquista do cinema atual. Tem boas cenas como, por exemplo, as consultas dos casais (tanto heteros como homossexuais) com os mais variados problemas e fantasias. A direção de Marshall é correta, mas burocrática, o que faz que não consiga desenvolver melhor o tema proposto para a comédia.

A produção não foi feliz ao escolher Patrick Bruel como ator principal. Ele é um bom cantor, mas como ator deixa a desejar. Apesar de ter uma cara gozada, não é muito expressivo, o que o prejudica nas cenas cômicas com algumas poucas exceções como, por exemplo, a simulação que ele e Sophie fazem de uma discussão para um casal. François Cluzet (Intocáveis), que já fez dupla com Sophie em Um Reencontro (veja aqui), teria sido uma escolha mais acertada, visto ser um ator bem melhor.

Se Bruel não está bem, Sophie Marceau, em compensação, está exuberante. Quem a viu em seu início de carreira como a adolescente romântica de La Boum – No Tempo dos Namorados (1980), e a vê agora neste filme, é bem capaz de levar um baita susto. Ela é a alma e a razão de ser do filme, tem as melhores piadas – dá pra ver que ela se diverte muito e acaba por contagiar o espectador – e consegue ser tudo que a personagem exige: perua, bonita, irônica, charmosa, sexy e engraçada. Sua personagem, Judith, é tão tarada que é impossível não rir com as visões dela de homens nus ou na cena em que tem um orgasmo após beijar Lambert. E não dá para não notar que ela é mulher demais para ele…

Os coadjuvantes fazem a sua parte com competência. Wilms está bem como Michel, o sensível tio de Judith, fabricante de perfumes, e que tem um amor paternal pela sobrinha; assim como a cantora Sylvie Vartan (de Malpertuis) no papel da mãe de Lambert, Nadine, uma mulher que, após anos dedicando-se ao filho, sai em busca de sua própria sexualidade e mostrando que, para isso, ainda é muito jovem.

Como é de praxe, o título nacional não é bom. O título original francês, “Tu Veux… Ou Tu Veux Pas?”, quer dizer, literalmente, “Você Quer… Ou Não Quer?” e soa bem mais malicioso. Por que não fazer a tradução correta? O nome também faz menção a uma canção de mesmo nome muito popular na França que, por sua vez, nada mais é que a versão francesa da canção brasileira “Nem Vem Que Não Tem”, interpretada pelo falecido cantor Wilson Simonal. Essa versão foi feita pelo cantor Serge Gainsbourg, pai da atriz Charlotte Gainsbourg (de Samba).

Sexo, Amor e Terapia não é a Grande Arte, mas cumpre seus objetivos: diverte, descontrai e o público sai do cinema satisfeito. Chega a lembrar as comédias românticas estadunidenses com seu humor leve (apesar do tema picante) e o final feliz. E não estranhem se, daqui algum tempo, algum estúdio de Hollywood decidir fazer a sua versão desta simpática comédia francesa.

Resenha dedicada à Vicente Adorno (1947-2015)

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