Críticas

Crítica | Os 8 Odiados

Quentin Tarantino, quando surgiu na indústria cinematográfica com Cães de Aluguel (1992), cujo roteiro e direção são dele, impactou esse indústria para sempre. A maneira como Quentin realiza seus filmes acabou influenciando diretores e roteiristas até hoje. Em cada um dos filmes seguintes, ele foi testando fazer um estilo de filme. No último, Django Livre (2012), ele entrou no mundo dos westerns. E Quentin Tarantino retorna a este gênero com o seu mais recente longa, Os 8 Odiados.

A história de Os 8 Odiados se passa no estado do Wyoming, após a Guerra Civil americana. Uma diligência é obrigada a parar em um armazém de beira de estrada por causa de uma forte nevasca que a alcança. O veículo é conduzido por O.B Jackson (James Parks, de Django Livre).

O.B foi contratado para levar em sua diligência o caçador de recompensas John Ruth (Kurt Russel, de Velozes & Furiosos 7). John conduz, algemado a ele, a bandida Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh, de Bem-Vindos ao Mundo) para que seja enforcada. Antes de chegarem ao Armazém da Minnie, eles encontram na estrada o ex-major do exército dos Estados Unidos, Marquis Warren (Samuel L. Jackson, de Vingadores: Era de Ultron) e o renegado confederado, Chris Mannix (Walton Goggins, de American Ultra: Armados e Alucinados) que se diz o novo xerife da cidade que é destino de John.

No Armazém da Minnie, os três passageiros da diligência encontram o mexicano Bob (Demian Bichir, de Machete Mata) que está cuidando do local na ausência de Minnie e seu marido, Sweet Dave; o carrasco inglês Oswaldo Mobray (Tim Roth, de Selma: Uma Luta Pela Igualdade); o vaqueiro Joe Cage (Michael Madsen, de Kill Bill) e o ex-general Sandy Smithers (Bruce Dern, de Nebraska). Pronto, os oito odiados do título estão reunidos. Desconfianças, revelações, rixas, descobertas e heroísmo serão apresentados aos espectadores das mais diferentes formas a partir de então.

O roteiro de Os 8 Odiados é exatamente o oitavo de Quentin Tarantino em que ele também cuida da direção. A história contada desta vez tem menos violência e ação do que as dos filmes anteriores, como Bastardos Inglórios (2009) e Django Livre. Isso não é ruim, porém poderá decepcionar ou frustrar alguns fãs ardorosos do diretor norte-americano. Neste roteiro, ele se baseou mais nos suspense e na surpresa para desenvolver a sua história.

Em entrevista coletiva, na qual o Observatório do Cinema participou, Quentin revelou que se baseou no filme de 1982, de John Carpenter, O Enigma de Outro Mundo. Apesar deste não ser um western e, sim, um horror de ficção científica, o clima entre os personagens deste filme foi uma das premissas utilizadas em Os 8 Odiados.

Na direção do longa, ele realizou um trabalho digno de nota ao fazer cenas memoráveis, como quando do encontro do major pelo caçador de recompensas e em uma das primeiras cenas de tiroteio no armazém. O trabalho dele com os atores também pode ser percebido pela “dança” deles no principal cenário no qual se torna o armazém. A movimentação – ou a falta de – é precisa, tanto para o que estão em quadro, quanto para os não estão. Desta forma se não estraga o que está sendo construído em cena e nada é revelado acidentalmente, sem que se queira.

As atuações de todos os atores que aparecem também estão muito boas. Quando a escalação do elenco é bem realizada, como foi a de Victoria Thomas (O Amor e Outras Drogas, 2010), não há atores ou atrizes que enfraqueçam o todo. Muito pelo contrário. Podemos destacar o trabalho maravilhoso de Kurt Russel. Kurt consegue estar perfeitamente em seu complexo personagem que é John Ruth. John pode ir da atenção à brutalidade em segundos. Também se deve falar da interpretação magnífica de Jennifer Jason Leigh. A atriz consegue transmitir os sentimentos da sua personagem de tal forma que em alguns momentos ela não precisaria nem de fala.

Walton Goggins é outro ator que merece ser lembrado, porque interpreta o seu personagem de maneira perfeita, levando realmente o espectador a ver na tela um típico rapaz do velho oeste americano.
As imagens do cinegrafista Robert Richardson, que já trabalhou com Quentin em Django Livre, também deixam qualquer um tonto. O filme, diga-se, foi filmado em película de 70mm. No Brasil, infelizmente, não será projetado assim. Aqui, ele será exibido em formato digital IMAX. Robert, ao mostrar a nevasca e depois ao filmar praticamente em um único cenário, conseguiu deixar a tensão fluir pelas câmeras. Mesmo sem exagerar em close-ups, percebe-se perfeitamente o estado dos personagens.

Quentin Tarantino conseguiu que um dos compositores mais clássicos de trilhas sonoras, o italiano Ennio Morricone, que fez temas para westerns spaghetti de Sergio Leone e para outros já clássicos filmes, como Era Uma Vez na América (1984), compusesse para o Os 8 Odiados. Então, longo de inicio, uma música, que com certeza se tornará tão clássica quanto as já feitas por Ennio, começa e com certeza não será tão cedo esquecida.

A edição do longa coube ao Fred Raskin. Outro velho conhecido do diretor, pois também foi o editor de Django Livre e assistente de edição em Kill Bill. Fred, ao trabalhar com o material fornecido por Quentin e Robert, provavelmente, não teve problema algum para montá-lo. Não existem dificuldades de entendimento da história, confusões de imagens em relação ao que contado, mesmo com as constantes idas e vindas. Mesmo que a versão assistida ainda precisasse de mais pós-produção, o que foi mostrado já estava muito bem feita. O que é incrível. Isso demonstra que Quentin Tarantino sabe muito bem manejar todas as ferramentas disponíveis com as quais um criador poder realizar um filme. Porque se mesmo quando ainda não está finalizado, o longa já tem uma qualidade excepcional, o diretor sabe o quer e o que faz.

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