Críticas

Crítica | Boa Noite, Mamãe

Um filme pode ter a função de divertir, de fazer pensar, de ser um ato político ou de incomodar. O longa austríaco Boa Noite, Mamãe é um exemplo deste último caso. O filme não promete apenas sustos fáceis como nos terrores habituais, mas sim um espiral intenso de sentimentos sufocantes, sequências perturbadoras e um ótimo mistério.

Assim, Boa Noite, Mamãe ganha força pelo seu roteiro muito bem estruturado, que à medida que o tempo passa o filme cresce em tensão e suspense. A trama que acompanha dois gêmeos, Elias e Lukas, que ao receberem sua mãe após uma cirurgia acreditam que ela não é mais a mesma (literalmente). Tentativas a parte do filme em criar um final extremamente surpreendente, e que de fato funciona, Boa Noite, Mamãe é inteligente e cria uma história instigante, que prende o espectador do começo ao fim.

Veronika Franz e Severin Fiala, roteiristas e diretores do filme, evitam o horror do extraordinário e sobrenatural, caminhando pelo interessante terreno do terror psicológico. Fazendo um longa que a construção do terror e da atmosfera de mistério está no simbolismo, em imagens em que o real e o imaginário se confundem, se misturam, o que causa o caos e o horror.

De maneira perspicaz, os realizadores vão se aprofundando nesses sentimentos, filmando de modo inventivo a casa onde a história é ambientada como se fosse um labirinto. Não somente um labirinto físico, que prova encontro, desencontros e armadilhas que surpreendem o público, mas também um labirinto psicológico, que mostra os complexos percursos da mente humana, que muitas vezes pode enganar o próprio homem.

A casa de Boa Noite, Mamãe é praticamente uma metáfora desse complexo processo psíquico humano, algo que se leva a crer na veracidade dos fatos, mas que é resultado dessa confusão mental. Além disso, o filme praticamente propõe uma atualização do conceito da casa mal assombrada, aqui não amaldiçoada ou coisa parecida, porém uma sufocante armadilha mental.

Assim, há nessa tensão toda, criada do início ao fim, mais do que um simples exercício de gênero ou de atmosfera. Há em Boa Noite, Mamãe uma tentativa de sair do senso comum do suspense e do terror, há uma investigação do verdadeiro horror, numa obra que se aprofunda nesse labirinto psicológico e, mesmo que num final que busque o choque, provoca incômodo no espectador.

Boa Noite, Mamãe não é um filme para os que buscam diversão no tormento alheio. O filme austríaco busca a provocação, a perturbação para jogar qualquer um nesse espiral de simbolismo, insanidade e terror.

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