Críticas

Crítica | Café Society

Para o amante de cinema, principalmente para o fã do grande cinema americano, a década de 30 e 40, conhecida como a era de ouro de Hollywood, ainda permeia o imaginário cinéfilo. A luz e as cores em technicolor ainda é uma das coisas mais deslumbrantes produzidas pelo cinema. E com todo seu conhecimento, Woody Allen é um grande admirador desse período e faz seu novo filme uma grande homenagem ao período.

E seu Café Society começa exatamente com uma declaração de amor ao período, falando justamente de como o por do sol era filmado na época. Dessa maneira, Woody Allen e o experiente fotógrafo Vittoro Storaro buscam imprimir ao filme uma estética semelhante ao daqueles filmes, e ambos fazem isso com extrema maestria, fazendo com que Café Society seja um dos filmes do diretor com mais apuro estético. Assim, a câmera de Allen e Storaro faz com que costa oeste americana seja um local extremamente deslumbrante e reluzente e é exatamente nesse mundo com uma aura quase mágica que o ingênuo Bobby Dorfman tentará ganhar a vida.

O filme foca então na tentativa do jovem judeu nova-iorquino, interpretado por Jesse Eisenberg, para conseguir um espaço em Hollywood, tendo ajuda de seu tio, Phil Stern (Steve Carell), um bem sucedido agente de astros cinematográficos. Logo o jovem Bobby se vê deslumbrado por aquele mundo de luzes e estrelas, mas toda essa excitação se apaga quando ele conhece a jovem Vonnie (Kristen Stewart), secretária de seu tio por quem Bobby logo se apaixona. No entanto, o que o rapaz não sabe é que a garota é na verdade amante de Phill Stern. O que de cara pareceria uma sátira sutil ao estilo de vida da alta sociedade hollywoodiana, quase como uma espécie de lado B de Ave, César (2016), a ironia escrachada dos irmãos Coen ao mesmo período.

Woody Allen segue por caminhos que flertam com a própria comédia romântica do período clássico americano, mas logo também parte para outra trajetória. Café Society tenta distanciar-se dos clichês das comédias românicas da época, sua referência parte muito mais da estética do que da narrativa, ao contrário de Um Amor a Cada Esquina (2014), ótimo filme de Peter Bogdanovich, se este é uma celebração de todo imaginário do gênero que foi criado justamente na época de 30 e 40, aqui Allen pretende ir além, pretende olhar o que há atrás do brilhante technicolor, do esplendor, do deslumbrante. Allen faz com que Café Society seja uma comédia romântica da desilusão.

Assim, o filme toma rumos muito mais melancólicos, por trás daquela magia toda há um sentimento intenso, há aquele amor nunca correspondido, mas tão presente da mesma forma que está ausente. É interessante notar como a volta do protagonista a sua cidade natal, Nova York, marca exatamente essa desilusão, Bobby quer fugir do encantamento, do local das histórias com finais felizes, do amor que se apresenta como a luz do por do sol em forma de Vonnie. Bobby então se afugenta numa cidade mais fria, mais cinza e mais realista, o garoto, agora parte de uma alta-sociedade nova-iorquina, tenta um novo recomeço, mas sempre em busca de algo como Vonnie, como se todo aquele magnetismo visto com seu primeiro grande amor continuasse presente, mesmo sem que ela esteja na sua cidade. Como não se lembrar de Vonnie durante o por do sol, se ela reluz como aquela radiante luz crepuscular?

Assim, é difícil esquecer Vonnie, pena que muitas vezes parece que Woody Allen não esteja interessado em fazer uma investigação ainda mais profunda dessa situação. Principalmente quando Bobby está em Nova York o filme ganha um aspecto episódico, apresentando muitas vezes esquetes sobre a família do protagonista, o que de certo modo funciona como alívio cômico tem pouca conexão com a trama principal, não repetindo, por exemplo, o que o próprio Allen fizera em Crimes e Pecados (1989). Dessa forma, muitas vezes, Café Society pare um filme com pouca sintonia com um roteiro que carece de um ajuste fino, uma atenção maior que possa ocupar a tela de maneira mais coesa.

E talvez essa seja a maior crítica a esse período de produções incessantes de Woody Allen, parece que os filmes do diretor estão sempre a um passo, a um tratamento do roteiro de se tornarem grande obra. E evidentemente Café Society é atingido por essa sensação, além desses dois núcleos pouco coesos entre si, o filme em muitos momentos tem que explicar ações e fatos através de uma narração que aparece só quando convém. Woody Allen mais uma vez quase entrega uma obra relevante, mas parece se contentar com um filme que fica pouco acima da média. A observação é feita com certa melancolia, uma vez que Café Society possui momentos de inspiração como a visualmente incrível cena do jantar a luz de velas, ou um cômico pedido de casamento desajeitado numa chapelaria de um restaurante chic.

Se o novo filme de Woody Allen não consegue alçar voos maiores e não é uma de suas grandes obras, Café Society ainda é um filme bastante agradável de ser assistido. Allen consegue trazer um pouco da magia e do brilho de uma época inspirada para a comédia romântica, e com seu novo filme o cineasta consegue comprovar que o amor é deslumbrante até mesmo quando não acontece da maneira como é planejado, ou não tem um final tão feliz quanto o dos filmes.

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