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Crítica | Cegonhas: A História que Não te Contaram

O cinema de animação provavelmente deve ter chegado ao seu auge nos últimos anos. Não apenas de forma técnica, mas também em seu conteúdo, na sua narrativa e em seu formato, atualmente a animação ganha certa responsabilidade que antes parecia não possuir. Os filmes desse gênero parecem ter que buscar sempre seu algo a mais, um ponto que toca a seriedade e se transforme num filme para crianças e adultos, divertindo os primeiros, mas captando os segundos por seu conteúdo.

Cegonhas: A História que Não te Contaram é um filme que dá um passo atrás nesse sentido, e busca uma simplicidade, uma inocência do que se fala, e da maneira como fala. Na sua falta de pretensão, o filme consegue tocar e conquistar por sua ingenuidade, por levar a trama por caminhos de pura invenção e diversão, Cegonhas chega para conquistar todos os públicos.

O filme escrito por Nicholas Stoller e dirigido pelo próprio Stoller com Doug Sweetland se passa num mundo em que as cegonhas desistiram de entregar bebês e agora trabalham a entregar encomendas de uma loja virtual, uma Amazon da vida. Com isso, o longa acompanha a história de Júnior, uma cegonha que deseja virar chefe na companhia de entrega, mas para alcançar seu objetivo terá que demitir Tulipa, uma humana que nunca fora entregue; incapaz de dispensar a moça, ela vai parar no departamento de correspondência e recebe a carta de um solitário garotinho que pede um irmãozinho, Tulipa ativa a máquina de bebês e agora Júnior e ela terão de levar aquela criança até sua família.

Com essa extensa sinopse é interessante como Cegonhas consegue fazer desses três personagens três núcleos bastante interessantes, ainda que todos estejam interligados, principalmente Júnior e Tulipa que partem juntos para encontrar a família do bebê, há uma independência no arco desses personagens. Dessa maneira, não é como se houvesse diversos núcleos dramáticos, mas sim personagens que não são apenas apoios para um protagonista e sim uma construção complexa, cada um com sua motivação e seus dramas. E é exatamente por isso que Cegonhas funciona, pois gera um interesse e uma preocupação para com aqueles seres que habitam o filme.

Com tamanho envolvimento, é fácil acreditar em todas as situações que os personagens se envolvem. E o longa tira extremo proveito disso, levando aquela história para os caminhos mais inusitados possíveis, como se o longa se divertisse ao ver seu personagens nas mais diversas situações, como uma perseguição de lobos que acabam se apaixonando pela fofura do bebê, ou até mesmo a construção de um mini parque de diversões na casa do garotinho que pediu o irmão, e assim por diante. Dessa forma, explícita esse tom despretensioso que assume desde o começo, não há a busca por ser profundo, por trazer reflexões que demonstrem certo conteúdo rebuscado, apenas a simplicidade de uma animação.

Com isso, o filme tem a intenção de criar um mundo extremamente divertido e a sua inventividade salta aos olhos nesse filme. As saídas que Stoller e Sweetland para construírem o universo de Cegonhas são admiráveis, como a própria máquina de bebês, o modo como as aves entregam suas encomendas e a fábrica em que tudo aquilo se passa no alto de uma grande colina. O longa de maneira bastante orgânica consegue colocar na tela todo um imaginário da vida atual naquela história, sem a necessidade de fazer nenhuma formulação sobre ela, apenas assimilando e constatando sua presença, o que transforma Cegonhas num filme perspicaz sem querer se mostrar inteligente.

E se a diversão dá o tom do longa, Cegonhas conduz sua comédia de forma bastante objetiva, sem ser uma busca exagerada por gerar risos em seu público, mas também achando soluções criativas para elaborar suas gags visuais. Como em um momento em que Tulipa ouve o bebê chorar e seu instinto materno não consegue ser indiferente, isso é mostrado através de uma montagem extremamente rápida, que dura segundo, e mostram ao longo dos tempos mulheres de diversas épocas defendendo seus filhos, explicitando de maneira lúdica essa relação instintiva. Esse é apenas um exemplos dos vários momentos em que Cegonhas provoca risos em sua plateia.

Bem feito e bem construído, Cegonhas: A História que Não te Contaram é um filme que preza do início ao fim pela sua simplicidade, compreendendo uma certa inocência que seu projeto carrega. É através dessa aceitação que o simples transforma-se num filme peculiar que consegue tocar e divertir pela ingenuidade e leveza que carrega consigo.

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