Críticas

Crítica | Tempestade: Planeta em Fúria

Tempestade: Planeta em Fúria pode não ser o melhor filme do mundo. Talvez tenha até algumas ressalvas a este julgamento que podem ser levadas em consideração, mas em geral o filme comete erros mais que recorrentes. O sentimentalismo gratuito e forçado, o visual genérica, as falas grotescas. Uma pena, até porque há em certa medida uma interessante trama de suspense no começo do filme, que até é interessante por envolver questões políticas e jogo de mistérios. Mas até mesmo essa inicial trama de suspense é desperdiçada…

O pressuposto do filme é forçado e, ao mesmo tempo, um pouco bizarro pelo tom samaritano ingênuo e caricato. Esse pressuposto diz que no ano de 2018 o aquecimento global nos levará à beira da morte. Estaríamos perdidos e sem esperanças. “Fomos avisados”, diz uma narradora com voz de criança, mansa e afetada, usando de chavões mais que genéricos com mensagens baratas de “um mundo é um só povo unido”, “viva a paz mundial!”. É uma tentativa de empatia forçada a nível de ficar irritante. Mas prossigamos: contudo, 17 países liderados pela China e Estados Unidos se uniram para salvar o planeta do apocalipse. Fizeram uma teia ao redor do globo terrestre com centenas de satélites que (sabe-se lá como) controlou a temperatura do planeta.

Este projeto foi comandado por Jake Lawson (Gerard Butler), um cientista extraordinário. Contudo, ele é posto de lado do comando da rede de satélites pouco antes desta ser entregue a uma entidade internacional que a ministraria – ela estava sob controle da NASA até então (por mais que houvessem 600 cientistas de 17 países, só os EUA davam as ordens). Seu irmão, Max Lawson (Jim Sturgess), é um dos cabeças do governo estadunidense. Eis que os satélites começam a apresentar falhas, e enquanto eram para proteger o planeta de temperatura hostis acaba por começar a provocar tragédias naturais. Quando estes problemas se inciam, Max – representando o governo – volta atrás na desição de afastá-lo e chama Jake. Este, contudo, descobre que as falhas não são falhas de fato: alguém instalou um vírus, conspira-se contra o projeto, alguém quer fazer um apocalipse no planeta.

O início da trama de suspense era até que promissor. Ela inclui personagens de diferentes países, o que dá um tom de fato internacional ao jogo político de cenário. É curioso, pois isso nos leva a entender que o longa não pretende reforçar o estereótipo de EUA como “os donos do mundo”, como se a eles coubessem toda a proteção e decisões políticas do planeta e, ao mesmo tempo, só fossem eles os capazes de defender a Terra. Ele se sai, no fim das contas, mais ou menos nessa sua pretensão.

Contudo, a trama de suspense, por mais das boas reviravoltas e jogos de mistério, já era desperdiçada por um roteiro fraco e uma direção morna. Dean Devlin, que dirige o longa, não tem um grande título em seu currículo: dirigiu episódios da série The Librarians e escreveu alguns filmes de ação como Independence Day: O Ressurgimento (2016) e Soldado Universal (1992). Aqui ele faz um visual pífio, comum e genérico, sem qualquer pujança – completamente inócuo. Para completar, ainda encena com estratégias genéricas e sem muita beleza um roteiro recheado de diálogos espalhafatosos e canastrões: falas de efeito em momentos absurdos e injustificáveis, sentimentalismo gratuito e forçado, idealismos muito mal concebidos que se tornam tentativas jocosas de idealizações. E lembra daquela trama de suspense promissora? Então, ela acaba por ser resolvida de uma forma pífia, mal colocada e mal embasada – quase que provisória.

Mas o sentimentalismo vulgar e inverossímil é aquilo que mais prejudica o filme, de longe. É cansativo ouvir falas e romantizações cafonas e caricatas que buscam atingir uma emotividade grandiosa mas beiram o cômico de tão forçadas que são. Tempestade: Planeta em Fúria tenta um final épico e apreensivo. Essa apreensão, contudo, é meramente efêmero: não é um suspense causada em empatia aos personagens e seus destinos – os atores até que não se saem mal, mas com diálogos tão mal-resolvidos como aqueles… – ou pela trama repleta de significados provocativos ou pela história extraordinariamente bem concebida. Você supera e esquece rápido o clímax da história (que tenta te marcar pela ansiedade do suspense) pois ele o faz sem muita criatividade ou impacto. É um suspense bem banal e comum, diria. Ah! Sem falar das representações estereotipadas ao máxima de cidades e pessoas de países como Brasil, Índia e Afeganistão.

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