Críticas

Crítica | A Noiva

Com certeza o que mais gera interesse em A Noiva é o fato do longa ser uma produção russa de um filme de terror, algo que aguça a curiosidade dos fãs do gênero em relação ao que se produz em termos de horror pelo mundo. Ainda que a cinematografia russa seja vasta e com nomes extremamente conhecidos, há uma clara tentativa de realizar obras para exportação, que podem dialogar com um amplo público, inclusive de outros países. Esse tipo de produção caracteriza-se por tentar se assemelhar nos valores de produção aos filmes americanos, tentando aparentar uma proximidade com a produção que mais vende ao redor do mundo. Por isso não se assuste caso a cópia de A Noiva esteja dublado em inglês mesmo, algo que faz com que o filme realmente pareça ser de outro país.

No caso A Noiva leva uma vantagem nesse quesito, uma vez que o terror é um gênero extremamente democrático, devido a suas raízes provindas do cinema B de baixo orçamento, esse é o gênero mais aliado ao pensamento de realizar obras que realmente podem atrair atenção sem ter um gasto exorbitante. Apesar dos americanos liderarem em disparada o mercado do cinema de gênero, o terror abre margem para essa possibilidade da criatividade através da falta de recursos. Esse é um gênero onde a inventividade vale muito mais do que qualquer coisa, lição aprendida justamente dentro dos filmes trashs.

O longa russo conta a história de uma garota que está prestes a se casar com seu atual namorado, num final de semana ela é levada à residência dos pais de seu noivo, local que parece preso no tempo e onde a moça sente-se constantemente perseguida e incomodada com as estranhezas de seus anfitriões. Enquanto a protagonista vai se preparando para um antigo ritual de união afetiva, essas sensações vão se multiplicando, deixando a garota completamente atordoada.

A Noiva começa com uma introdução ambientada no século XIX, mostrando uma antiga prática de fotografar mortos e a crença que isso mantinha a alma daquelas pessoas vivas, além de mostrar um ritual de um homem que conseguia transferir almas vivas para sua finada esposa. A Noiva se dá na união dessas duas narrativas, da garota visitando a macabra casa da sogra e o antigo ritual daquela região, fazendo com que pareça haver dois filmes naquela trama de horror. A mais interessante realmente é esse retorno ao passado da protagonista, que em seus pesadelos consegue reviver aquele tempo para entender seus rituais e suas consequências, fazendo com que ela reconheça a casa onde está hospedada naquele tempo passado onde o macabro era extremamente presente.

De fato, A Noiva tem suas maiores virtudes nessa lógica entre um passado tenebroso que tenta voltar para assombrar aquela nova garota. Assim, os personagens daquela casa se vestem e agem como se estivessem num outro tempo histórico, até mesmo no ritual macabro esperam pela jovem com outros valores, onde o casamento significaria o fim da virgindade. Essa poderia até ser uma questão interessante no filme, mas surge como uma mera reprodução de clichê, uma tentativa de inserir um subtexto sexual ao longa e uma saída fácil para os problemas narrativos, ao invés de ser aquilo que materializaria esse choque entre tempos tão diferentes.

O filme ainda tem aquele seu segundo ponto, uma obra que investe num suspense psicológico em que as perseguições sofridas pela protagonista esteja sempre no limiar entre a paranoia e a realidade. O que se vê então são as maiores reproduções de clichês que se pode imaginar, um filme que deseja parecer com outras cinematografias para atrair seu público simplesmente copiando tudo aquilo que já cercou esse gênero. O longa então abusa de portas que se abrem sozinhas, de falsos sustos – como um garoto brincando de esconde-esconde no guarda roupa da protagonista, enquanto ela acha que ali está quem a sempre observa, a música que sempre dita o sentimento do espectador; e os momentos mais tensos que sempre se revelam como pesadelos. E o pior, isso sempre levado sem muito rigor pela direção do filme, que não consegue nesses momentos fugir do clichê e construir pontos de suspense ou uma atmosfera de tensão.

A Noiva, dessa maneira, se perde em clichês e estereótipos, perde tempo (re)criando essas imagens sem ao menos conseguir consolidar sua narrativa. Assim, essas duas histórias presentes no longa parecem realmente nunca se conectarem, como se habitassem realmente momentos diferentes, pouco interligados. Assim, com muito tempo nas viagens de sua protagonista ao passado e ainda mais nos sustos psicológicos da heroína da narrativa, chegando a seu terceiro ato, o filme precisa criar cenas e mais cenas para explicar os acontecimentos, dizer sobre a maldição que assombra aquela família, os processos de ritual e tudo mais, tudo em diálogos expositivos.

A parte final de A Noiva é marcada por uma série de sustos e uma profusão de imagens horripilantes, que surgem para mostrar que o terror visto ali era real. Ainda que o filme se renda aos sustos nesse momento, algo marcado até pelo alto volume da banda sonora, que assusta mais que as imagens, há no longa um quê de trash, evocando as mais absurdas imagens, fazendo de A Noiva o que ele deveria fazer, abraçar sua precariedade técnica e pretensão de assemelhar-se com um terror blockbuster americano.

A Noiva fica então apenas nessa reprodução, afastando justamente o caráter democrático que o filme de terror concede a cinematografias menos comerciais. A curiosidade em relação a um filme russo de terror se perde pelo fato de ser realizada ali uma simples cópia de tantas outras coisas.

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