Filmes

Mostra SP | Crítica: Friday's Child

Mais uma produção independente hollywoodiana sendo parte da programação da Mostra SP, Friday’s Child do cineasta A.J. Edwards, estrelando Tye Sheridan, mais conhecido por interpretar Scott Summers/Ciclope na franquia cinematográfica X-Men. Este é o segundo trabalho de Edwards na posição de responsável pela narrativa. Em 2014, fez sua estreia na grande tela com o longa The Better Angels, sem conseguir arrebatar a crítica especializada. E, é possível imaginar qual o motivo, pois este, se repete novamente em sua mais recente obra que mistura drama e crime.

Friday’s Child apresenta a vida de Richie, que acabou de fazer 18 anos, e teve que sair da instituição de cuidado adotivo onde viveu por anos e, como um andarilho que encontra dificuldades de lidar com o mundo real, se vê propenso a cometer pequenos crimes visando sua sobrevivência. No meio do caminho, se aproxima de Swim, um malandro das ruas que com a ajuda de Richie, conseguem tirar algum dinheiro para sobreviver, além de conhecer Joan, onde descobre um amor impossível, devido as origens de cada um.

Se não é familiar, o que é muito natural, ao trabalho do jovem diretor A.J. Edwards, certamente, ao final da exibição do longa, será possível ter uma noção muito clara de quem ele é, ou melhor, quem foi seu mentor. Pesquisando os trabalhos para audiovisual do cineasta, chega-se ao conhecimento de seus trabalhos como editor, de praticamente todos os projetos do autor Terrence Malick pós-O Novo Mundo.

Já é famosa a história de que o renomado cineasta americano costuma utilizar vários montadores em seus projetos. Edwards foi um destes, em filmes como: A Árvore da Vida, Amor Pleno, Cavaleiro de Copas, e De Canção em Canção.

E, assim como seu orientador, Edwards também já pegou a ideia de se vaguear pela narrativa, focando mais em belíssima cinematografia, bem como uma trilha sonora exuberante, do que em história, texto. Tanto nos filmes mais recentes de Malick, como em ambos do diretor A.J. Edwards, a sensação de ambiente e natureza, ligados por uma linha de divindade, ou plano celestial, dão as caras com muito mais força do que a ideia de construção e tratamento das personagens.

O icônico ator canadense Christopher Plummer, que trabalhou ao lado de Terrence Malick no longa O Novo Mundo, não teve grandes prazeres nesta experiência, pois o autor que segue uma linha de trabalho nada ortodoxa, costuma na hora da edição, cortar muitas falas de seus atores, chegando ao ponto de até eliminar suas participações, ao final da pós-produção. Assim, o veterano Plummer lhe escreveu uma carta, aconselhando Malick a contratar um roteirista, para dar mais corpo a suas histórias, e fazer com que alguns de seus filmes não se percam tanto, em dispensáveis ou exagerados momentos de contemplação, algo muito comum em suas obras, nas melhores, como Além da Linha Vermelha e A Árvore da Vida, e até mesmo nas piores, como Amor Pleno e De Canção em Canção.

Pode-se dizer o mesmo para A.J. Edwards em Friday’s Child, em exibição na Mostra SP. Curioso, que no começo do filme, não se sente este aspecto cinematográfico à la Terrence Malick tão presente. Em boa parcela do longa, há com enorme clareza, construção e tratamento das personagens, especialmente o protagonista Richie, e seu par romântico Joan, papel de Imogen Poots. Porém, quando na trama, foca-se o relacionamento dos dois, de repente adentramos uma atmosfera mais mística, similar ao estilo de seu mentor, fazendo a obra de Edwards perder sua identidade, completamente dali em diante.

Sim, a fotografia de Jeff Bierman é capaz de gerar grande encantamento, principalmente nas cenas a céu aberto, seja dia, tarde ou noite. Todavia, parece que assim como Edwards emula Malick, pode-se dizer que Bierman imita Emmanuel Lubezki, vencedor de três Oscars como diretor de fotografia, por três anos seguidos.

Na melhor parte de Friday’s Child, fica perceptível sua abordagem que mira a dificuldade de se crescer sem as referências dos pais. Tanto Richie, quanto seu tresloucado “amigo” Swim, demonstram o senso de solidão e isolamento, que carregaram por toda uma vida. E, as vezes, fica difícil conseguir lidar com as oposições e contingências quando nunca se teve alguém ao lado para pontuar, acertos e erros. É possível apoiar-se no outro, para buscar ajuda, mas, não podemos salvar a nós mesmos, da mesma maneira.

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