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Crítica | Dumplin'

Existe uma categoria de filmes que geralmente agrada o grande público, mas deixa a crítica especializada torcendo o nariz. São os chamados ‘feel good movies’, no traduzido são os filmes que buscam fazer o espectador se sentir bem, seja pelo caminho que for. Óbvio, que quem denomina estas obras com qualquer tipo de pecha depreciativa apenas pelo seu conceito que visa mensagem, panfletária ou não, e emoção acima de forma ou técnica mostra enorme incompreensão com o tipo de objetivo que tais materiais buscam atingir, além de uma boa dose de imaturidade emocional.

Desta maneira, Dumplin’ que se encontra disponível para o público pela provedora mundial via streaming Netflix é, sim, mais do mesmo, porém isso não significa que falte coração ao filme solar da diretora Anne Fletcher que é capaz de deixar o público com um sorriso na face quando começarem a rolar os créditos finais.

Dumplin’ conta a história de Willowdean Dickson, uma jovem gordinha que é filha de uma ex-miss, que têm dificuldades de aceitar seu próprio corpo e aparência. Com saudades de sua amorosa tia Lucy, falecida a seis meses, a moça decide enfrentar os padrões e entra no concurso de beleza comandado por sua mãe na cidade onde vive, no estado do Texas. Agora, Will terá de lidar com suas maiores inseguranças se quiser mostrar seu real valor para si mesma, sua mãe e todos que a julgam inapta a ser uma rainha da beleza.

O novo projeto da cineasta Anne Fletcher não se diferencia muito de outras obras de sua filmografia. Sempre rondando o terreno das comédias românticas, em filmes como Ela Dança, Eu Danço, Vestida para Casar, ou seu maior sucesso de bilheteria e melhor trabalho na carreira como diretora, A Proposta de 2009, estrelando Sandra Bullock e Ryan Reynolds.

De todos os seus trabalhos, certamente o longa de dez anos atrás ganhou maior destaque pois os astros se alinharam trazendo ventos de boa sorte, sendo que astros é uma referência clara a dupla de protagonistas do filme. Na teoria, A Proposta não seria nem um pouco diferente de seus outros longas-metragens, contudo, ter em seu elenco dois atores com grande facilidade de ‘timing’ cômico, sem esquecer o vasto carisma, elevou o material à prateleiras mais altas.

Pode-se dizer que o mesmo vale para Dumplin’ da Netflix, que só fica atrás do longa de 2009 dentro da filmografia da diretora, também atriz, coreógrafa e dançarina Anne Fletcher. Só que agora o realce fica por conta das atrizes Danielle Macdonald e Jennifer Aniston.

Os únicos predicados do longa mais recente da cineasta recostam na sua dupla de atrizes, além de uma trilha sonora composta por Dolly Parton, um dos maiores símbolos de talento ligado a country music americana.

Qualquer empatia ou conexão emocional com a história sendo contada só é possível pela vibração de Danielle Macdonald, atriz australiana que ganhou notoriedade interpretando uma rapper no filme Patti Cake$ de Geremy Jasper, e foi vista recentemente em outra produção original Netflix, o suspense pós-apocalíptico Bird Box de Susanne Bier. Macdonald traz à mesa todos os elementos essenciais em filmes assim, onde a personagem principal percorre o trajeto que passa pelas penúrias pessoais à exaltação em frente a todos, mas a jovem atriz faz isso vibrando o suficiente para gerar um encantamento com sua história.

Todavia, quem leva o maior destaque em Dumplin’ é a estelar Jennifer Aniston que conseguiu unir seu talento dramático visto em Cake de 2014 com a habilidade que possui no campo cômico, desenvolvido ao longo de anos trabalhando na série de TV Friends, que alcançou seu ápice nas comédias Quero Matar Meu Chefe, que são dos trabalhos mais marcantes na carreira da atriz. E, talvez um dos poucos e bons méritos de Fletcher como diretora nesta produção da Netflix foi de não reduzir o papel da atriz como a simples mãe sulista viciada em concursos de beleza.

Isto é Dumplin’: estruturado como qualquer outro ‘feel good movie’, previsível no discorrer dos fatos, e um pouco panfletário em certos momentos, mas marinado em emoções genuínas, exatamente como é a música de Dolly Parton.

Em ‘Jolene’, uma de suas mais populares canções, Parton exalta as maravilhas de uma outra mulher que não ela mesma, mas que belo é o contraste quando se nota que a real beleza vem na composição, letras e performance de uma voz singular, peculiar e apaixonante como é a de Dolly Parton. Algo que a ‘fofinha’ Willowdean sentiu na pele com as canções de sua maior heroína, e que deve guiar o coração e mente em prol de uma aceitação mais leve na vida.

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