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Crítica | Sai de Baixo: O Filme

Sai de Baixo: O Filme finalmente está nos cinemas depois de anos de tentativas de desenvolvimento. Apostando fortemente na nostalgia de suas personagens, o longa traz uma comédia completamente fora de seu tempo, mesmo quando tenta se atualizar. O próprio clima nostálgico é falho, já que a adaptação à nova mídia exclui boa parte dos momentos mais lembrados do programa.

A direção de Cris D’Amato (S.O.S.: Mulheres Ao Mar, Confissões de Adolescente) é confusa, com cortes imprecisos e closes que quebram totalmente a linguagem com a qual os fãs estão acostumados. Durante todo o filme é perceptível o confronto entre a tentativa de se modernizar com pontuais instantes de piadas internas ao seriado e leves quebras da quarta parede. Assim, a película fica completamente fora de tom e não consegue se decidir em que âmbito da comédia quer colocar suas fichas.

A própria atuação fica perdida no meio da bagunça de identidade que é proposta. Com exceção de Lucio Mauro Filho, o elenco todo atua hora como no teatro, hora como no cinema. Isso só ajuda a caracterizar a equivocada mistura que foi feita com o filme. Mesmo Mauro Filho está no filme sem trazer nada de novo para o jogo. Suas duas personagens pouco fogem do seu trabalho em Sexo Frágil, série que ia ar nas noites de sexta, na Globo. Dessa maneira, o que vemos uma mescla de tudo que já foi visto antes.

Por problemas externos, a própria nostalgia fica desfalcada. Nunca vemos todas as personagens originais dividindo a mesma tela. O peso cai todo nas costas de Miguel Falabella, Tom Cavalcante e Marisa Orth. Falabella revive Caco Antibes muito bem, mas suas piadas datadas deixam a desejar. Cavalcante também repete seu Ribamar, e seu arco no filme condiz com a personagem, porém, sua falta de evolução o deixa por demais raso. Quem consegue roubar a cena de fato é Orth com Magda. Sua atuação funciona quando é sutil e exagerada. Suas piadas são as mesmas, mas ainda funcionam e, mais do que isso, ajudam a entender o que mudou em sua personagem nos últimos anos.

Outro ponto sobre Cavalcante é sua outra personagem, Jaula. Exagerada e extremamente caricata, sua participação no filme é a pior coisa no longa. Cacau Protásio e Katiuscia Canoro são ótimas adições, mas prejudicadas pelo roteiro. O enredo tenta ser um grande episódio, o que não funciona nem um pouco com a mudança de mídia. A demora para o filme ser finalmente realizado pode ter sido o grande vilão da obra. Fora de tempo, todos tiveram que se desdobrar para achar o tom. O que não fizeram.

Outros pontos bastante específicos devem tirar completamente o público da imersão. Em um determinado momento, há o uso de uma trilha incidental. É o único momento que o subterfúgio é usado, e ele é completamente fora de tom. Mais para o final do longa, ainda há o uso de um Deus Ex-Machina por meio do non-sense. Por mais que possa ser aceitável em uma comédia, em nenhum momento isso é sequer provocado. Mais uma vez, o filme quebra totalmente o seu clima.

O final do filme traz péssimos efeitos na tentativa de relembrar que o programa era feito num teatro. O final feliz quebra mais ainda a ideia da série. Enquanto nas telinhas sempre víamos tentativas de golpes dando errado e trazendo o próximo episódio para o mesmo ponto, dessa vez a mudança não só, mais uma vez, tira o caráter da obra mas também não condiz com a própria ideia crítica que sempre houve às personagens.

O que vemos nas telonas com Sai de Baixo: O Filme é uma obra que não consegue se justificar, muito porque a própria a obra parece nem saber o motivo de existir. O longa não condiz com a importância de sua série na televisão brasileira, nem com seu sucesso de público e crítica, ao menos nos primeiros anos de sua duração. Confuso, parece mais uma colcha de retalhos na busca de ser um todo.

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