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Crítica | Cine Holliúdy 2 - A Chibata Sideral

Quantas declarações de amor ao cinema você já ouviu na vida? Algumas? Muitas? De quantas formas diferentes? Seja como for, é certo que cada um tem a sua maneira singular de dizer ou demonstrar o porquê ama tanto essa tal de sétima arte.

Recentemente, o bom musical La La Land – Cantando Estações de Damien Chazelle buscou elevar a temperatura interna do espectador(a) ao criar um drama romântico sobre sonhos em um Hollywood que hoje em dia não é mais como um dia foi. E, também dizem que não é possível medir uma paixão, pois cada um sente o ardor de uma específica forma. Pensamento correto, mas que não exclui o fato de que alguns conseguem estabelecer uma identidade mais vibrante e charmosa com os elementos que opta utilizar. E, é exatamente isso que o cineasta Halder Gomes faz no ótimo Cine Holliúdy 2 – A Chibata Sideral, continuação do filme de 2012.

A sequência, também dirigida por Halder Gomes, continua relatando a vida do destemido Francisgleydisson, homem sonhador e empreendedor que vive em Pacatuba, interior do Ceará na década de 80, que vê a popularização da TV obrigá-lo a fechar as portas do seu cinema, o Cine Holliúdy, e ir morar junto de sua esposa Maria das Graças e seu filho Francin na casa de sua sogra. Cheio de dívidas, o pai de família testemunha um amigo ser abduzido por alienígenas, quando lhe ocorre a ideia de fazer um filme de ficção científica onde Lampião e seus cangaceiros enfrentam uma invasão alien no Nordeste brasileiro. E, com uma iniciativa financeira do prefeito da cidade e a futura candidata ao cargo, Francisgleydisson busca sanar suas dívidas e exercer sua grande paixão.

De todos os méritos de Halder Gomes, que inclui também o primeiro filme lançado em 2013 nos cinemas brasileiros, dois se destacam em maior volume: a riqueza de criatividade do cineasta; e a sua atenção e zelo pela linguística nos aspectos fonético, morfológico, sintático (com variados vícios de linguagem), semântico e social.

Na parte criativa, o diretor suga de outras produções como Rebobine, Por Favor do francês Michel Gondry, ou até do filme independente Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer de Alfonso Gomez-Rejon. Apesar disso, nunca parece ser uma cópia de uma ideia que estamos observando, pois o cineasta cearense sempre imprime a cultura nordestina, e mais especificamente do Ceará, com tantos elementos visuais e sonoros que fica impossível assistir Cine Holliúdy 2 – A Chibata Sideral e concluir que estamos apenas vendo algo que é parte do eixo original, já que esta ramificação peculiar tem vida própria.

Já, no quesito linguagem, a abundância é tão descomunal (no sentido, daquilo que não é considerado comum) que não à toa, o protagonista Francisgleydisson quando explica ao delegado de polícia o sumiço de seu amigo bebum diz que a língua falada pelos aliens é bem parecida com o ‘cearensês’, língua falada no estado do Ceará. Quem se lembra do longa antecessor, já sabe que Cine Holliúdy faz uso de legendas para auxiliar o público a “entender” o que está sendo dito pelas personagens. Aqui, uma sacada inspirada de Halder Gomes, que ao fazer isso, realmente ajuda a elucidar algumas expressões e ideias, mas curioso também é que quando menos percebe, está compreendendo tudo o que é dito sem ler as legendas.

É fácil se naturalizar com a linguagem em Cine Holliúdy 2 – A Chibata Sideral pelo fato do longa fazer isso dentro de um gênero cinematográfico, no caso, a comédia. Além de exaltar a identidade cultural de uma região com todo o seu ar mítico e místico. Assim, tudo junto e misturado como é a história de nosso país. Essas duas identificações se somam e criam uma obra que estimula a manutenção do sorriso na face entre um momento cômico e outro.

Muito lúcida também é a crítica social no filme de Halder Gomes que indica a lacuna que existe no Brasil, separando a arte e a cultura de um lado, e a coligação Igreja/Estado do outro.

Assim é Cine Holliúdy 2 – A Chibata Sideral, um crachá representativo de uma parte do nosso Nordeste que é parte da história do Brasil, que é parte de nós. Fazendo de Pacatuba, o que Damien Chazelle fez por Los Angeles: celebrar uma terra de paixões, sonhos e empreendedorismo.

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