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Crítica | O Date Perfeito

Já foi dito inúmeras vezes por jornalistas especializados na área de cinema, e cinéfilos mundo afora, que os trabalhos de Woody Allen estragaram o que se tornaria o gênero cinematográfico definido como comédia-romântica. O baixinho de óculos fundo de garrafa (hoje, um homem odiado por razões extracampo), elevou este tipo de filme a um patamar que raramente é alcançado, principalmente por seus diálogos hilariantemente criativos de natureza rompedora em personagens aflitos e complexos ao mesmo tempo.

Do momento que é pontuado sua baixa estatura até o final desta linha, tudo o que se fez foi denotar por estereótipos e usar adjetivos qualificadores para tentar exprimir quem é um dos maiores autores de cinema nos dias atuais. Algo muito simplista, se considerarmos sobre quem estamos falando. Mas, o que é elementar demais para definir Allen, parece muito apropriado para indicar a nova rom-com original da Netflix, O Date Perfeito estrelando Noah Centineo, galã em desenvolvimento da provedora mundial via streaming que já fez parte das produções Para Todos os Garotos que Já Amei e Sierra Burgess é uma Loser.

Discorrer sobre O Date Perfeito, dirigido por Chris Nelson, vindo da televisão e em seu terceiro longa-metragem, é abordar uma história de um garoto de 18 anos chamado Brooks Rattigan, atrás de dinheiro para conseguir pagar a faculdade dos seus sonhos. Assim, junto de seu melhor amigo Murph, criam um aplicativo de encontros, onde o jovem é contratado para fazer o papel de namorado por algumas horas, sem a necessidade de se envolver fisicamente com a cliente. Nesse tempo, vai se aproximando cada vez mais de Celia, e questionando quem é realmente, e o que na verdade quer dessa vida.

Só de apresentar a sinopse dessa produção Netflix já é possível indicar para onde esta história vai, certo? Óbvio. Porém, isso não será necessariamente um problema, pois o longa de Chris Nelson tem a sorte de conseguir compensar a previsibilidade do texto com dois atores cativantes que possuem boa química em tela.

Saber que o longa irá de ponto A até B (como tantos filmes da indústria fazem) geralmente é um aspecto matador para alguns espectadores, que visam ser surpreendidos e maravilhados todo o tempo. Se for este o caso, não encontrará nada que lhe interesse aqui, nada mesmo! Todavia, para os que adoram e digerem as convenções destes tipos de filme, O Date Perfeito entrega exatamente o que é pedido. Nem mais, nem menos. Apenas o que já era esperado, com carisma e uma boa lição moral útil no final.

Como tantas obras que retratam pessoas jovens, geralmente ainda na escola e prestes a entrar na vida adulta, este filme da Netflix comenta o amadurecimento, também como outra produção recente da mesma, a comédia dramática Loja de Unicórnios, mas a diferença é que a produção de Chris Nelson fica mais focada na ideia de começar a descobrir quem se é realmente. E, para fazer isso, o diretor também em fase de amadurecimento, entrega o básico do básico, e nem se preocupa em tentar desviar dos clichês. Abraça eles, e conta com o talento de sua dupla romântica para segurar as pontas.

Inegavelmente, funciona. Mesmo que não seja tão profunda quanto outras produções da mesma linha. E, os méritos vão para o jovem ator Noah Centineo, que entrega o mínimo necessário para cativar o público, especialmente o feminino, mais afeito ao gênero. Centineo tem expressão e um belo sorriso, só isso já é suficiente para entreter; além do ator ser uma versão jovem de Mark Ruffalo. A semelhança desconcertante vai do jeito até o timbre da voz!

Geralmente, atores fadados a fazer produções do tipo comédia romântica ganham pecha de limitados, ou ‘apenas um rostinho bonito’. Forma de pensar bem traiçoeira, vide que atores consagrados como Matthew McConaughey, Chris Pine e mesmo seu doppelgänger Mark Ruffalo continuam a provar o contrário com grandes trabalhos, seja para cinema ou televisão. Noah Centineo pode estar trilhando pelo mesmo caminho.

A outra metade romântica fica por conta de Laura Marano que reproduz ‘a garota rebelde mas nem tanto’. Tipo de personagem que atrai um público mais alternativo, mesmo que de forma pasteurizada. Talvez Juno, papel de Ellen Page, da personagem-título tenha “estragado” a garota esquisita para os que curtem tal idealização.

É nisso que se reduz O Date Perfeito: absurdamente distante do adjetivo do próprio título, mas suficientemente aconchegante em sua proposta. Que no final, deixa algo legal para o assinante da Netflix ao mostrar um personagem masculino reparando seus erros cometidos por um egocentrismo comum do próprio gênero, e também pela parte feminina mostrando maturidade ao manter as coisas sob base probatória.

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