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Crítica | À Queima-Roupa

À Queima-Roupa! Conseguem pensar em um título de filme de ação mais retrô décadas de 80/90 do que este, que já se encontra disponível no catálogo da Netflix?

É praticamente automático ir lá para trás e, rememorar os filmes de ação que passavam no período da noite nos canais de televisão aberta. E, de certa maneira, o longa dirigido por Joe Lynch não está tão distante disto em alguns momentos nesta produção original feita pela provedora mundial via streaming.

Claro que sua obra de orçamento curto – apenas 12 milhões de dólares – não têm munição para bater de frente com grandes produções cinematográficas do mesmo gênero. Ainda assim, Lynch consegue dois feitos: filmar com o mínimo de clareza e imprimir algum charme. Pena, que o roteiro de Adam G. Simon seja previsível logo desde o começo, atrapalhando qualquer possibilidade de suspense, além de uma construção de personagem enxuta para dois dos personagens que carregam maior conteúdo dramático, assim, dificultando uma das intenções do texto: a relação afetuosa que surge dos momentos de sobrevivência.

À Queima-Roupa nos permite acompanhar um dia na pele de Paul, um enfermeiro prestes a virar pai. Só que o dia escolhido pelo diretor Joe Lynch, foi para Paul, o pior de todos. Sua esposa grávida de quase 9 meses é sequestrada, levando o enfermeiro a se unir com um criminoso, na tentativa de poder salvar sua mulher e bebê. E, neste dia infernal, Paul irá lidar com gangues e policiais corruptos, tentando sobreviver até encontrar aqueles que ama.

Quando começam a rolar os créditos finais desta produção original da Netflix, a primeira coisa que vem à mente, é a percepção que Joe Lynch fez este longa-metragem a seu gosto, compondo uma narrativa desarmoniosa entre tons, com partes mais dramáticas e alguns momentos de humor nonsense; e também nos tipos narrativos de cinema de ação, realista e absurda.

Até a trilha sonora de À Queima-Roupa é extravagante, parecendo mais uma playlist montada a gosto do patrão, que vai do som punk hardcore em uma cena de perseguição, passando pelo clássico electro hip hop The Message do grupo Grandmaster Flash & The Furious Five, e continua explorando a música negra americana, com canções de bandas electro funk da década de 70 (trazendo de volta certa atmosfera das séries de tv policiais); conseguindo fechar com o hit Here I Go Again da banda de hard rock farofa Whitesnake. Detalhe: o uso destas canções raramente casa com o que se vê na tela.

No meio desta mistureba doida, fica óbvio que resultaria em um material irregular. Contudo, o cineasta responsável pelas obras Everly – Implacável e Perigosa (2014) e Um Dia de Caos (2017) abraça com afinco essa mirabolante trama toda desnivelada como ela é, estipulando uma identidade clara à produção Netflix. Neste quesito, ajudou muito a parceria com o cinematógrafo Juan Miguel Azpiroz que não reinventou a roda, porém, manteve a ação perto da câmera, sem confundir o espectador com movimentos (ou cortes) em excesso; aparentando inclusive certo descompromisso, deixando algumas cenas mais libertas neste caldeirão de ingredientes diversos.

Também foi de grande auxílio, algumas das performances do elenco. Mais especificamente: Anthony Mackie e Marcia Gay Harden.

O ator americano popular pelo papel de Falcão, um dos Vingadores no Universo Cinematográfico da Marvel, tem no dia a dia apresentado uma evolução clara no campo dramático. Fácil notar a sagacidade em alguns trabalhos recentes do ator de apenas 40 anos de idade. Mesmo se o texto não ajudar, certamente, não faltará dedicação e argúcia por parte de Anthony Mackie.

Já, a veterana atriz não começa À Queima-Roupa muito bem. Mas, em determinado momento do enredo, é cedida uma brecha para esta se soltar, e ela o faz, com agudez e uma leveza debochada elevando sua atuação na obra de Joe Lynch.

Se o roteiro não tivesse tido tanta pressa em entregar alguns fatores, o longa de Lynch teria conseguido resultado mais consistente. Com menos de dez minutos já sabemos onde estamos e para onde vamos. Mesmo algumas passagens no meio do caminho ficam expostas de maneira cristalina. Isso tira algo de entretenimento da história.

À Queima-Roupa da Netflix não é nada mais do que um projeto discreto, incapaz de fazer maior barulho. Mesmo assim, consegue cativar em alguns momentos por alguns predicados que possui. Curioso, que este longa é um remake de um filme francês de 2010. Mais curioso ainda é o fato de esta ser a quinta encarnação desta história, que já foi adaptada anteriormente na Coreia do Sul e Índia, por exemplo.

Será que o cinema asiático, ou de Bollywood conseguiu melhores resultados que esta versão americana? Fica a dúvida!

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