Filmes

Mostra SP | Crítica: Wasp Network

O cineasta francês Olivier Assayas – nascido em Paris, capital do país – , hoje, é dos grandes nomes do cinema no mundo. Suas obras quase sempre são selecionadas para as competições de grandes festivais, como Cannes e Veneza. E, na maioria das vezes, com enorme carinho por parte dos especialistas. O ótimo Acima das Nuvens – com atuação cirúrgica de Kristen Stewart, que serviu como ponto de virada na carreira da atriz – e o competente – apesar de extremamente verborrágico – Vidas Duplas do ano passado, são duas amostras deste apreço que existe com o diretor francês.

Mas, a afeição, como tudo na vida, não resiste perpetuamente. Em 2017, Assayas escreveu com Roman Polanski, o “suspense psicológico” Baseado em Fatos Reais – dirigido pelo autor de cinema franco-polonês – , um exercício de cinema de gênero, vão e pobre. E agora, Wasp Network, como um dos filmes selecionados para a nova Mostra SP que se inicia hoje (17/10), inclusive, escolhido para a abertura oficial do festival, se mostra o material mais desnivelado da filmografia recente do autor de cinema. Bem desnivelado!

Wasp Network, inspirado em eventos reais, mostra – pois contar está fora de cogitação aqui – a história de grupos rebeldes cubanos – com base em Miami, Flórida – que no início dos anos 90 planejavam ataques ao governo de Fidel Castro. Desta maneira, o gabinete cubano resolveu enviar para Miami, um grupo de elite de espiões para adentrar no meio destes rebeldes anti-Castro, e observar suas movimentações e esquemas. No passar dos anos, os espiões conhecidos como Os Cinco Cubanos acabaram por enfrentar a justiça americana por crimes de espionagem e assassinato.

Inegavelmente, existe uma boa história a ser contada aqui, ainda mais, quando conscientizamos que tais fatos realmente ocorreram há algum tempo atrás. Porém, isso só ficou no campo da probabilidade neste caso, já que o longa de Olivier Assayas é exageradamente fragmentado, praticamente retalhado. É uma produção onde fica muito fácil de identificar as partes, mas estas nunca trabalham em uníssono em prol do todo. Consequentemente, ao rolar dos créditos finais ficará uma sensação de estranheza – no mau sentido – a respeito do que acabou de ver. Mesmo o conceito de certo esclarecimento histórico acaba passando longe em Wasp Network, ou seja, se quiser buscar um entendimento sobre a crise cubana na década de 90, incluindo o conflito com a América presidida por Bill Clinton, é melhor matar suas dúvidas através de livros sobre este momento na história dos dois países.

O melhor comparativo a ser feito com o filme de Assayas é com o das telenovelas. Sendo brasileiros, fica ainda mais confortável perceber as semelhanças entre as nossas telenovelas e o trabalho mais recente do cineasta francês. É até possível afirmar que se o longa de Assayas fosse um capítulo de uma novela (ou série), o resultado não seria tão problemático. Mesmo porque o estilo narrativo destas harmoniza melhor com esta ideia de núcleos fragmentados. Já que como cinema, apenas se apresenta de forma desigual.

Para exemplificar isso, fica perfeito colocar sob análise o ‘plot’ que discorre os acontecimentos na vida de Juan Pablo Roque, personagem interpretado pelo astro brasileiro Wagner Moura – o eterno Capitão Nascimento dos filmes Tropa de Elite. Seu personagem aparece, faz sua parte – que pouco acrescenta à trama – , e depois some da história, assim também como a personagem de Ana de Armas (Cães de Guerra, Blade Runner 2049), que faz o interesse romântico de Moura.

Todavia, não é só o desequilíbrio narrativo que atrapalha a imersão do espectador em Wasp Network. O paralelo com as telenovelas brasileiras também se dá na artificialidade de muitos diálogos, que acabam prejudicando as performances de alguns atores no elenco, exemplo: a cubana Ana de Armas e o argentino Leonardo Sbaraglia (Relatos Selvagens, Dor e Glória), que exagera na entonação em quase todas as cenas.

A única em todo o elenco que consegue – com muito esforço – passar algum senso de genuinidade é Penélope Cruz. No meio de tanto dramalhão, é difícil conseguir passar algo real, mas a atriz espanhola tira leite de pedra do roteiro rocambolesco de Olivier Assayas.

É de se lamentar que o novo Assayas tenha saído como foi, pelo conteúdo interessante que tinha em mãos. Wasp Network, exibido na Mostra SP não esclarece, e confunde mais o espectador, esquecendo de imbuir qualquer pulso à biografia dos Cinco Cubanos.

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