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Crítica | Deixe a Neve Cair

Daqui até o final do ano, a provedora via streaming Netflix vai disponibilizar para seus assinantes, uma porrada de obras natalinas, sejam filmes ou séries. Semana passada já começou, com o fraquíssimo Resgate do Coração. Agora é a vez de levar a magia do dia de São Nicolau para os mais jovens, com a comédia romântica Deixe a Neve Cair de Luke Snellin, estreando como diretor em longas-metragens.

O filme de Luke Snellin consegue fazer apenas um pouco melhor que o lançamento natalino da semana anterior, porém, ambos sofrem de uma condição terrível para comédias românticas, e que derruba o prazer do espectador com facilidade: baixa qualidade de texto para o humor.

Assim, Deixe a Neve Cair nos leva até a pequena cidade de Laurel, no estado de Illinois, quando na véspera de Natal, uma nevasca une um grupo de jovens que passam por situações complicadas com suas amizades, família e interesses amorosos. Todos eles tentarão acertar suas contas até a hora da festa de Natal que acontecerá em uma lanchonete especializada em waffles.

Não é de hoje que rom-coms falham em acertar o tom cômico para conquistar o espectador. Claro, que nem todos podem ser Woody Allen ou Richard Curtis, mas também não precisam ser assassinos do riso, poxa!

Desta maneira, quando a comédia não dá as caras, sobra só a parte romântica para sustentar uma obra como Deixe a Neve Cair, por exemplo. E, convenhamos que tal parte fica mais fácil de ser executada quando todo o elenco é repleto de atores bem afeiçoados com sorrisos cativantes. Aí, com um mínimo de sinergia, é mais que o suficiente para atrair alguns, no caso do longa de Snellin, um público mais jovem.

É isso que Deixe a Neve Cair faz de melhor: sobreviver.

Muito pouco, ainda mais em filmes com tema natalino que elevam o espírito de amor e congregação nos últimos dias do ano.

Se faz mais que necessário exaltar a importância da comédia em um filme deste tipo, seja este voltado para público teen ou mais velho, tanto faz. Humor é um ato de ruptura do comum, do corriqueiro, em suma, é uma deflexão. Algo que foge da linha reta das relações rotineiras, trazendo um pouco mais de nuance, além de uma abertura visível em nossas interlocuções.

Tal abertura, como esperado, agiria como uma ponte entre história e o assinante Netflix, tentando nos inserir na trama com mais vontade e prazer, inclusive, auxiliando no quesito empático que obras assim miram, no caso, que sintamos as dores pela ansiedade da personagem Addie, interpretada por Odeya Rush (Goosebumps: Monstros e Arrepios, Dumplin’), ou a dúvida de Julie, papel de Isabela Moner (Sicário: Dia do Soldado, De Repente uma Família), ou mesmo a solidão de Stuart, do ator Shameik Moore que deu voz a Miles Morales em Homem-Aranha no Aranhaverso.

Tudo isso, tem um impacto muito menor do que poderia pela ausência de humor de boa qualidade no filme de Luke Snellin.

Nem estabelecer uma atmosfera interessante em um determinado lugar, o cineasta de primeira viagem foi capaz de conceber. Já que a lanchonete onde trabalham Dorrie (Liv Hewson) e Keon (Jacob Batalon) não consegue nem fazer o papel de um ambiente singular, do tipo que define as pessoas que se encontram lá, ou mesmo a geração atual.

Nos anos 90, houveram algumas comédias que faziam esta função muito bem, como a loja de discos em Império dos Discos, Uma Loja Muito Louca de Allan Moyle, ou mesmo a estação de rádio em Os Cabeças-de-Vento de Michael Lehmann que também tiveram as mesmas dificuldades de arrancar risos (mas, não tantas!) que Deixe a Neve Cair têm.

Quando todas estas estrelas se alinham, pode-se ganhar uma comédia cheia de vida, tipo O Balconista (1994) de Kevin Smith, que transforma a loja de conveniências/locadora de vídeos onde trabalham Dante Hicks e Randal Graves como um símbolo de uma era que não existe mais, capturando em preto e branco os anos pré-web 2.0.

Infelizmente, Deixe a Neve Cair de Luke Snellin – disponível na Netflix – apenas repete os mesmos protocolos e situações de outras rom-coms, sem uma identidade para chamar de sua. E, apenas sobrevive do encanto jovial de alguma parte de seu elenco. Deixe essa passar.

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