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Crítica | Minha Mãe é uma Peça 3

Com a transposição da peça homônima criada por Paulo Gustavo às telas de cinema, Minha Mãe é uma Peça tornou-se um fenômeno por conta do imenso amor do público à personagem de Dona Hermínia. Uma composição alegórica – no sentido carnavalesco mesmo – de Gustavo, juntando características de mães no geral e sua própria, Hermínia é o chamariz de cada produção onde dá as caras, e tal abordagem tem funcionado. Mas até quando a personagem dará pano para manga sem perder seu propósito? Até onde esta expansão será natural?

Minha Mãe é uma Peça 3 continua o arco de pequenos e grandes acontecimentos na vida de Dona Hermínia, agora forçada a encarar a emancipação total de seus filhos: Juliano (Rodrigo Pandolfo) irá se casar com o namorado e Marcelina (Mariana Xavier) terá sua primeira criança. Com ambas notícias chegando à sua mesa em simultâneo, a mente de Hermínia entra em polvorosa sob as preocupações e as intenções de apoiar seus filhos, mesmo que estes digam que tudo já está nos eixos e que a ajuda da mãe não é mais necessária – uma ideia que a faz perder seu chão.

Como em outros projetos similares, não há uma estrutura muito consolidada para tudo que ocorre no longa, nem mesmo uma que reflita esta falta de base para a protagonista. Enquanto a primeira parte – se é que se pode separar em partes – se concentra em Hermínia refletindo sobre a maturidade dos filhos, vez ou outra fazendo um desvio para viajar aos Estados Unidos ou ir a um clube de dança, a segunda se encavala com as providências que são feitas para o nascimento de sua neta e os preparativos para a festa de casamento de Juliano.

No entanto, isso tudo se encontra espaçado através de esquetes, como não poderia deixar de ser, para utilizar ao máximo a composição de Paulo Gustavo como Hermínia. É perceptível pelas reações de outros espectadores que, em momentos isolados – a passagem inicial na feira, por exemplo -, a fala acelerada de Hermínia, com suas opiniões formadas sobre absolutamente tudo que vê e toca, é capaz de desarmar e fazer rir espontaneamente. Novamente, em momentos isolados – que, aqui, mais do que se acumulam.

Minha Mãe é uma Peça 3, na lógica do “quanto mais, melhor”, descarrega uma overdose de Hermínia ao espectador, e tais situações passam a ter um efeito reduzido por conta da repetição, criando uma certa monotonia em como o humor é entregue: pela fala. Além de atirar para todos os lados, a presença de Gustavo, que já roubaria a cena de qualquer forma, por vezes afoga excessivamente seus coadjuvantes nos diálogos que se sobrepõem. Sendo a única fonte de humor do filme, isso cria ainda mais uma divisa entre Hermínia e o restante das personagens.

Por outro lado, em instantes curtos mas elogiáveis, Gustavo é capaz de modular sua interpretação da personagem com uma surpreendente sensibilidade, ao lidar com os toques agridoces do enredo sem diminuí-los em meio à avalanche de humor. Talvez o ator pudesse modular sua entrega mais vezes e encontrar um equilíbrio constante para Hermínia, assim dando a cada instante de humor um efeito mais acentuado e tornando sua presença infinitamente mais orgânica dentro do elenco. Porém somos bombardeados pelo seu timbre agudo quase que a todo momento.

Felizmente, a direção de Susana Garcia até conta com uma maior organicidade que o texto assinado por Gustavo, encontrando aqui maneiras fluidas de passar entre as esquetes oferecidas. Não raro a diretora executa eficazes efeitos de transição de cena para cena, exibindo um cuidado prévio de decupagem já que são truques que dependem de uma precisão milimétrica em enquadramentos. Garcia também tem se mostrado uma boa escolha para encenar diálogos, sem medo de apostar em planos médios que dependam do entrosamento do elenco.

Minha Mãe é uma Peça 3 infelizmente enfraquece sob sua (des)estrutura em esquetes, possuindo unidade temática mas não dramática, e exibindo suas mensagens finais de aceitação com uma certa timidez contraditória. Talvez desta forma Gustavo procure tocar outras Hermínias, duras na queda quanto à maneira que enxergam seus filhos. De outro lado, o público irá ao cinema em busca daquela Hermínia específica, aquela que tanto amam aturar. E bote aturar nisso, já que há tão pouco equilíbrio entre ela e tudo mais que o filme tem a oferecer.

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