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Crítica | Modo Avião

A Larissa Manoela que interpretou Maria Joaquina na telenovela Carrossel – baseada na original mexicana – cresceu! Mas ainda é possível encontrar um pouco da garotinha esnobe da Escola Mundial em Modo Avião, nova comédia de produção original da Netflix.

Dirigido por César Rodrigues, o filme nos apresenta Ana, influenciadora digital apaixonada por moda que vê sua vida virar do avesso quando assina uma parceria com uma marca renomada. A jovem passa a transmitir todos os eventos e acontecimentos diários de sua rotina com dezenas de publicações. Contudo, este vício no celular acaba prejudicando Ana quando esta sofre um acidente de carro por não conseguir desgrudar os olhos do aparelho. Seus pais, preocupados com seu comportamento, enviam a garota para viver no interior, na casa de seu avô Germano (Erasmo Carlos). Lá, Ana descobrirá suas origens, paixão e verdadeira vocação, aproximando-se mais de sua família e de si própria.

Enredo batido, não é?! Fácil de perceber. Ainda assim, existe algo de maior dignidade nesta produção Netflix. Modo Avião é um mesclado de tantas outras produções desse mesmo estilo – na maioria dos casos, comédias românticas. Desta maneira, não prende pela inventividade, mas acerta na proposta narrativa de estabelecer a diferença dos mundos, e como se encontrar neste meio. Muito similar a rom-com Doce Lar (2002) de Andy Tennant, estrelada por Reese Witherspoon.

Obras deste tipo – de enorme apelo popular – necessitam de astros que consigam magnetizar o espectador. No papel, a jovem Larissa Manoela checa muitos destes pré-requisitos, em vista que ela é uma artista famosa em território nacional, dona de uma popularidade inquestionável. Sua página digital do instagram tem mais de 28 milhões de seguidores. Para se ter uma noção do tamanho disto, a Austrália tem uma população estimada em 25 milhões de pessoas. Assim, é possível afirmar que a jovem atriz é seguida por ‘uma Austrália’ e mais três milhões e tantos de pessoas, diariamente em sua página digital.

Na prática, a atriz consegue atrair pelo seu carisma natural, mas uma pena que o roteiro escrito a oito mãos (Alberto Bremer, Jonathan Davis, Alice Name-Bomtempo e Renato Fagundes) não é capaz de tirar mais de sua estrela maior, e também do resto do elenco. O problema não se encontra nos diálogos, ou mesmo nas situações da história, já que estas se encaixam em uma fórmula conhecida. O ponto baixo está na fragilidade dos conflitos destes personagens, principalmente de sua protagonista.

Em cinema de gênero, mais do que a existência de conflitos, ou desafios a serem superados, é essencial que haja uma certa vibração para manter o assinante Netflix entretido e capturado pela trama sendo contada. E, Modo Avião captura, solta, captura, solta, e assim vai se repetindo. Não há uma regularidade narrativa, que é repleta de situações de relacionamento profundas que são solucionadas de maneira simplista demais, deixando um ar de superficialidade quando na realidade não são. Tal fator acaba por afetar as performances do elenco, que vive em uma montanha-russa emocional, só que daquelas menores, geralmente indicadas para crianças pequenas.

Todavia, um mérito deve ser elevado no filme de César Rodrigues, que é a aproximação de mundos e gerações diferentes, estabelecendo uma comunicação progressista entre estas. Neste quesito, Modo Avião se sai bem e de forma madura, entendendo claramente que o meridiano não é uma barreira vertical, mas apenas uma linha invisível que permite que ambos os lados possam atravessar na busca de conceitos opostos.

Apesar de obras como esta produção Netflix terem como seu maior alvo o público jovem (especialmente feminino), há algo para os mais old school. O cantor e ator Erasmo Carlos – mais conhecido como Tremendão – faz o papel de avô da personagem de Larissa Manoela. E, testemunhar Erasmo mexendo em uma caranga das antigas, fará com que os mais avançados rememorem a própria juventude.

Modo Avião da Netflix se resume nisso: uma comédia simpática, repleta de compaixão que cambaleia por não conseguir transpassar toda a complexidade que o tema dispõe, dado que o vício em aparelhos de celular e redes sociais são o símbolo das gerações deste século XXI.

Porém, ao menos algo de muito valioso pode ser tirado do filme:

Se for dirigir, não dê like … ou compartilhe algo … ou faça uma selfie … ou twitte qualquer coisa. Sua vida e a do próximo é o mais importante.

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