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Terrores Urbanos | Crítica - 1ª Temporada

Uma nova produção nacional que chega para complementar o acervo do serviço Play Plus, Terrores Urbanos se propõe a construir releituras de lendas urbanas comuns ao imaginário popular, mas acaba compondo suas histórias com pouquíssima inventividade.

A série traz cinco episódios distintos, cada um apresentando diferentes interpretações de lendas urbanas conhecidas como a Loira do Banheiro (primeiro episódio) e o Homem do Saco (quinto episódio). Adianto os principais pontos positivos desta nova produção, filmada com uma fotografia consistente, e uma montagem relativamente eficiente, dignas de qualquer comparação com o padrão internacional. Os enquadramentos e a movimentação, também adequados aos modelos principalmente americanos, reforçam a ideia de que Terrores Urbanos é pensada para ser, possivelmente, consumida por mercados do exterior sem muitos problemas.

Fora dos aspectos visuais, no entanto, a série está longe de alcançar qualquer prestígio quando comparada às suas principais (e evidentes) referências americanas. Boa parte de seus problemas vem de um texto superficial, mal estruturado e repleto de diálogos pouco naturais, que torna-se ainda mais sofrível graças à interpretações equivocadas de um elenco com poucos destaques positivos.

Já no primeiro episódio (“A Loira do Banheiro”), percebe-se a intenção da série de construir contextos e cenários simpatizantes à todos os públicos. Terrores Urbanos, no entanto, acaba indo além em sua tentativa de replicar fórmulas conhecidas do cinema, e produz retratos de uma sociedade brasileira pouco reconhecível, composta majoritariamente por elementos comuns aos filmes americanos que servem de inspiração para suas histórias. Serve como exemplo, a dinâmica adolescente pouco familiar deste colégio particular em que os personagens estudam (a protagonista do episódio comemora ter sido escolhida para ser a oradora de sua turma, ao lado de colegas tão animados quanto ela).

A série também se esforça para seguir certas regras de contextualização, inerentes a qualquer produção comum, mas que acabam sendo executadas sem muita sutileza por aqui. Desde movimentos de câmera e enquadramentos exagerados, até exposições narrativas demasiadamente pragmáticas e convenientes ao roteiro.

Dada a curta duração que um típico episódio de televisão pode providenciar para estas histórias individuais, o desenvolvimento de cada uma das tramas sofre com os obstáculos gerados pela falta de espaço para que o suspense proposto possa ser preparado adequadamente, e entrega personagens tão superficiais quanto seus diálogos, que almejam síntese, mas entregam banalidade. Outro exemplo desta execução pobre, a bulimia da protagonista é colocada em meio à trama para compor parte de uma abordagem psicológica sobre o monstro em questão. Mas, sem o devido aprofundamento, soa irrelevante ao final do episódio.

A plasticidade dos diálogos só se comprova cada vez mais, ao longo de cada episódio, e demonstra um completo descaso com qualquer naturalidade em várias interpretações, principalmente no caso de personagens menores. Coadjuvantes apresentam construções frequentemente ineptas e desprovidas de qualquer aprofundamento. Alguns dos protagonistas ainda conseguem encontrar o ritmo certo para a entrega de diversas linhas de diálogo pouco orgânicas, mas a inconsistência do elenco em geral é gritante demais para que possa ser salva por algumas boas soluções de interpretação.

Também vítima desta falta de sinteticidade, diversos temas sociais e tópicos contemporâneos também são integrados sem muita inventividade, e acabam soando, mais uma vez, amargamente superficiais dentro de cada trama.

Terrores Urbanos acaba tornando-se extremamente dependente de seus atributos visuais, e de seu apelo ao público geral, acostumado a consumir terror descompromissadamente. Apelo este, que pega emprestado das diversas produções em que se inspira para abordar suas lendas urbanas. O segundo episódio, intitulado “Gangue dos Palhaços”, acaba abraçando aspectos muito semelhantes aos presentes em filmes da franquia “Uma Noite de Crime”. “Boneco Amigão”, quarto episódio da série, nem mesmo parece se importar com a proposta original da produção, e apenas reproduz diversos elementos característicos de filmes que contam com “brinquedos assassinos”.

São vários, os momentos marcados por uma trilha sonora desconcertante que nem sempre consegue reproduzir toda a tensão proposta. Em parte, graças à alguns excessos que mais sobrecarregam a cena, do que a complementam (Um erro também recorrente em diversas produções que seguem o mesmo “modelo” de filme de terror adotado por aqui). Igualmente comum a filmes de terror pouco comprometidos, a genericidade dos personagens vai tornando-se realmente incômoda durante o terceiro e quarto episódio de Terrores Urbanos, com diversos clichês sendo utilizados descaradamente pelo roteiro.

Ao mesmo tempo, o bom e velho questionamento típico do público de filmes de terror (também chamado informalmente de “chatice”) pode encontrar muito com o que se ocupar por aqui. Conforme cada episódio caminha para sua conclusão, o ritmo da sobrenaturalidade se intensifica, e os desenvolvimentos narrativos vão se tornando cada vez mais dispensáveis para o roteiro. Este, pouco preocupado com sua coesão, e mais dependente de uma boa atmosfera, que é parcialmente alcançada pela direção de algumas cenas. Há diversas soluções pouco inspiradas (e ainda menos plausíveis), para que as histórias se completem, todas já vistas amplamente dentro do gênero de terror e suspense (com melhores execuções).

Estes finais apressados acabam apresentando um elemento que, em momento algum, parece ser cobiçado espontaneamente pelas tramas da série: a gratuidade. Com progressões pouco elaboradas, seus monstros e terrores soam, diversas vezes, gratuitos demais para qualquer impacto real no espectador, a não ser que este nunca tenha tido nenhum contato com produções do gênero.

O último episódio da série, “O Homem do Saco”, ainda traz a interpretação mais interessante dentre todas as outras, procurando estabelecer uma conexão entre a lenda e o desejo inerte de mães que gostariam que seus filhos desaparecem, quando estes não se comportam. A proposta no entanto, não escapa de todos as outras falhas recorrentes da série, e também é finalizada de maneira pouco substancial ou intrigante.

Terrores Urbanos carrega diversas falhas que a tornam dificilmente aproveitável para qualquer espectador que já tenha assistido à um filme (ou série) de terror ou suspense. Longe de conseguir reproduzir a emoção de suas referências (muitas delas, já questionáveis), a série ainda demonstra não conseguir explorar qualquer uma de suas histórias com o mínimo de originalidade. Um desserviço ao cenário brasileiro de produções de terror, que sempre apresenta potencial para, justamente, se distanciar dos cansativos padrões comerciais internacionais.

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