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O Mundo Sombrio de Sabrina | Crítica - Parte 2

A segunda parte de O Mundo Sombrio de Sabrina se mostra mais propensa aos moldes da TV aberta americana em uma sequência de episódios com altos e baixos, compondo uma temporada irregular, mas que apresenta estímulos suficientes para agradar o seu público-alvo sem muita dificuldade.

A produção de O Mundo Sombrio de Sabrina é um caso curioso. Originalmente pensada como uma série derivada de “Riverdale”, a bruxaria de Greendale parece cada vez mais distante desta proposta original, ainda que reproduza diversos moldes narrativos e apelos comuns às séries da CW. Esta segunda parte, então, aproveita esta abordagem com menos restrição do que a primeira leva de episódios, que procuravam estabelecer a série como uma obra mais “prestigiosa” do que suas comparações.

Tal execução carrega diversos benefícios que não são nem um pouco desconhecidos do cenário televisivo. Aqueles que apreciam o conforto de acompanhar tramas adolescentes em ambientes fantásticos com certeza irão se sentir envolvidos pelas desventuras de Sabrina na escola de bruxas que domina a primeira metade desta segunda parte. Diversas sequências  procuram agradar este público cativo com as típicas dinâmicas luxuriosas entre os atrativos alunos desta escola, com o terceiro episódio marcando um ápice desta estratégia, que pode ser tudo que os fãs querem ver de uma série como esta, ou pode incomodar espectadores que esperam uma abordagem mais madura.

Aqueles que encerraram a primeira parte de O Mundo Sombrio de Sabrina com grandes expectativas para o desenrolar das principais tramas podem se frustrar com a primeira metade desta segunda parte, justamente pelos desvios de foco da série, que deixam as conspirações demoníacas de lado em função de tramas contidas plenamente funcionais, mas pouco memoráveis. O quarto episódio (tão longo quanto qualquer outro), por exemplo, é um típico capítulo descartável (um “filler”) cuja maior função é prolongar a série, e embora possa agradar espectadores casuais, dificilmente empolgará aqueles que estiverem engajados em uma maratona.

Eis que a segunda metade desta leva de episódios retoma o ritmo da narrativa principal da série com um entusiasmo notável. Novos desenvolvimentos chocantes alteram drasticamente as circunstâncias para os personagens, e produzem uma sequência de capítulos plenamente arrebatadora, até sua conclusão. Os antagonistas da série dificilmente chegam a ser tão ameaçadores quanto deveriam, mas o charme e a vivacidade da protagonista continuam tão cativantes quanto na primeira parte (se não, ainda mais).

Sabrina continua sendo uma personagem fácil de se admirar. Além do novo visual, sua personalidade também foi consideravelmente alterada pelos eventos da primeira parte da série, e suas afrontas e discordâncias continuam, no mínimo, divertidas de acompanhar. É uma pena, no entanto, que o Padre Blackwood (Richard Coyle) seja um oponente tão pouco digno de tais empenhos, e a série não deveria perder tempo em produzir novos vilões que possam encarar Sabrina com mais tensão do que foi visto até aqui.

Sem revelar muito sobre os últimos episódios, até mesmo o diabo em pessoa, Lúcifer Morningstar, não é capaz de passar a imposição que sua figura deveria, e suas maquinações são facilmente questionáveis. A construção do personagem tem sua parcela de culpa por esta falta de sensação de ameaça, mas a série como um todo também não parece estar disposta a incomodar seus personagens tanto quanto poderia. Se o resultado positivo do aumento de ritmo que citei prova qualquer coisa, é que O Mundo Sombrio de Sabrina exibe sua melhor forma quando abraça seu lado desconcertante.

É necessário perguntar. Os episódios desta série realmente precisam de sessenta minutos de duração, cada? Talvez se as tramas fossem mais distintas entre si, com ambientes diferentes e uma dinâmica procedural engajante (inventiva, por favor), a experiência de assistí-los um a um poderia ser gratificante. Do jeito que são construídos, no entanto, a série parece procurar instigar os espectadores a encarar uma maratona, tornando a sua irregularidade de ritmo, um dos maiores defeitos desta segunda parte.

Depois desta conclusão, me vejo muito (repito, muito) mais interessado em acompanhar a trajetória de Prudence (Tati Gabrielle) e Ambrose (Chance Perdomo), dois personagens cujas construções nesta segunda parte foram dignas de nota, do que de Sabrina e seu grupo de amigos mortais, cuja história poderia ter sido perfeitamente encerrada por aqui e haveria pouco com o que se incomodar. É evidente que a temporada, como um todo, foi construída para dar essa sensação de conclusão (caso a série não fosse renovada), mas faltou deixar um vislumbre de potencial tão produtivo quanto no final da primeira parte.

As reviravoltas de O Mundo Sombrio de Sabrina não fazem justiça a todo o potencial que a série apresentava em sua primeira temporada, mas também não chegam a ser incômodas, apenas pouco impactantes. Esta falta de impacto é um resultado da pobre preparação para tais reviravoltas, afinal, um truque de mágica sem prenúncios perde qualquer chance de impressionar.

Ainda estendendo alguns elogios à protagonista, Kiernan Shipka entrega uma interpretação consistente com sua Sabrina carismática, sempre equilibrando bem os traços mais “fofos” da personagem com momentos intimidadores que devem deixar os fãs bem empolgados. O oitavo episódio, onde vemos uma versão mais maléfica e, ao mesmo tempo, mais inocente da protagonista, é só mais um atestado da capacidade da jovem atriz, que consegue construir ambas as personagens com distinções notáveis e expressões impactantes.

Visualmente, a produção de O Mundo Sombrio de Sabrina continua aproveitando o mesmo deslumbre dos designs da primeira parte, e embora não traga novas composições tão marcantes ou bem expostas quanto antes, algumas escolhas estilísticas são, no mínimo, curiosas, mesclando o visual grotesco com elementos elegantes que compõem uma identidade chamativa para a série como um todo. Felizmente, é possível imaginar que as próximas temporadas pretendem explorar novos ambientes, proporcionando oportunidades interessantes para esta abordagem visual.   

A segunda parte de O Mundo Sombrio de Sabrina conclui as propostas iniciais da série de maneira meramente satisfatória. Seus piores episódios ficam abaixo da primeira parte, enquanto seus melhores apresentam uma boa evolução para a produção. Diante desta irregularidade, a série precisará se esforçar para expandir seu universo de uma forma chamativa, e progredir as histórias de seus personagens com mais dinamismo para manter o seu posto (devidamente conquistado) como uma série mais do que relevante, em meio às suas comparações.  

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