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Game of Thrones: A Última Vigília | Crítica

Trabalhar no audiovisual definitivamente não é fácil. Seja em um curta-metragem de orçamento independente ou em uma grande produção de Hollywood, o desejo de contar histórias reúne um grande número de pessoas envolvidas com o mesmo projeto, e que movimenta uma grande indústria nos EUA. Na televisão, não existe nada como Game of Thrones, que é certamente uma das maiores produções que já passou pela TV americano, e que em 2019 chegou a seu polêmico e divisivo final, exibido mundialmente na semana passada. 

Para não deixar a série acabar sem cerimônias, a HBO organizou um documentário para acompanhar os bastidores da temporada final. Batizado de Game of Thrones: A Última Vígila, o especial de 2 horas é um olhar bem pessoal e detalhista sobre diversos elementos e pontos altos dos últimos episódios, seja no complicado processo de preparação ou no impacto para cada membro do elenco e equipe que dirá adeus para um trabalho de 10 anos. Todos aqueles que se interessam pelos bastidores de uma grande produção certamente terão muito para admirar aqui.

O grande triunfo de Game of Thrones: A Última Vigília é seu senso de realismo. Ao contrário da maioria dos featurettes e making ofs que encontramos no material extra de DVDs e Blu-rays de filmes, o documentário é praticamente um registro. Não temos cenários e iluminação montados para que o elenco e equipe fale para a câmera. A direção de Jeanie Finlay assume um caráter bem inimista e quase de câmera escondida, registrando diálogos aleatórios e mundanos dos mais variados funcionários envolvidos com a produção – desde aqueles que preparam o café para o elenco, o trabalho do extenso departamento de maquiagem e até a heróica tarefa de se montar o cronograma de filmagem, que diversos entrevistados definem como similar ao de um longa-metragem; mas onde cada episódio equivale a um filme.

Um dos momentos mais divertidos de A Última Vigília inclui a primeira leitura de roteiro da temporada de Game of Thrones. Vemos os astros Peter Dinklage, Emila Clarke, Sophie Turner e todos os demais se reunindo para ler os roteiros de todos os episódios, e as reações são ótimas. Kit Harrington, por exemplo, não havia lido nenhum dos textos, e sua reação ao ver a cena final entre Daenerys e Jon Snow é fantástica, com a nítida emoção do ator (também presente no registro de seu último dia de gravação). De forma similar, é divertido ver a reação eufórica do elenco para a cena em que Arya mata o Rei da Noite no terceiro episódio – e que sinceramente quase fez o momento da série parecer satisfatório.

Mas é mesmo na grande parafernália que Game of Thrones se distancia das demais séries, e A Última Vigília faz jus ao insano preparo e ensaio das grandes sequências da temporada, que incluem A Batalha de Winterfell e o Cerco de Porto Real. Finlay conversa com figurantes animados e enfatiza o trabalho apaixonado dos maquiadores, transformando uma das chefes de departamento em uma “quase” protagonista emocional, especialmente ao capturar momentos onde ela desabafa de saudades de sua filha, nas insanas 14 semanas de filmagem noturna para a batalha contra o Rei da Noite – e gostei de conhecer mais sobre Vladimir Furdik, intérprete do vilão de gelo, que falou bastante sobre sua entrada no ramo de atuação, e um dos momentos mais tocantes do documentário é justamente quando vemos seu último dia e – já saído da maquiagem – murmurando para a câmera que era hora de “voltar ao mundo normal”.

Os momentos que acabam decepcionando são justamente aqueles onde A Última Vigília tenta ser mais “robuscado”. Especificamente pela escolha de trilhas sonoras incidentais, de forma a tornar o momento mais emocionante (principalmente nas gravações do funeral pós-Batalha de Winterfell). Ficou faltando também alguma coisa, qualquer registro com os showrunners D.B. Weiss e David Benioff, que mal aparecem no documentário, a não ser por pequenas participações entre as cenas de bastidores.

Não importa o que os fãs tenham achado do resultado final da última temporada de Game of Thrones, A Última Vigília é indispensável. Principalmente para aqueles que apreciam conhecer o trabalho de bastidores de uma grande produção, explorado sem grande enfeite, ensaio ou capricho: é simplesmente um registro real e sincero sobre meses de um trabalho incansável.

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