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Labirinto Verde | Crítica - 2ª Temporada

Labirinto Verde continua sendo uma série de mistério ideal para aqueles que já estão cansados dos moldes americanos que dominam a televisão, e embora acompanhá-la possa ser uma experiência que demanda uma disposição maior do que o espectador comum possa esperar, o resultado desse envolvimento consciente é majoritariamente positivo.

Olhando para as últimas duas décadas da televisão, não há como negar que o maior benefício proporcionado pela Netflix para este cenário é a sua disponibilização de séries internacionais para o alcance de um público muito mais abrangente do que os países onde estas séries se originam. Passe um bom tempo assistindo a todo tipo de série americana, e logo perceberá os padrões e modelos que percorrem a maioria destas produções, bem como as histórias que estas se dispõem a contar. E quando a monotonia começar a incomodar, basta olhar para o mercado televisivo europeu, e sem dúvida encontrará alguma série que desafia estas convenções, revigorando o interesse de qualquer espectador entediado.

A série francesa Labirinto Verde é apenas mais um exemplo do quão intrigante pode ser assistir a uma história tão (à primeira vista) comum quanto a que temos por aqui, mas cuja abordagem logo causa um estranhamento em quem está acostumado a conferir os mistérios policiais americanos. Labirinto Verde poderia ser descrita como uma mistura entre as séries procedurais americanas, com suspenses mais abrangentes como “Wayward Pines” ou a famosa “Twin Peaks”. Estamos, mais uma vez, diante de uma pequena cidade de interior que é assolada por uma onda de assassinatos, onde a possibilidade de haver explicações menos mundanas acaba atiçando a curiosidade do público.

Cidades como Villefranche sempre foram o foco de diversas obras de mistério e tensão, pois proporcionam um cenário contido repleto de figuras bem estabelecidas e dinâmicas produtivas para se construir uma história envolvente. E nesta pequena comunidade francesa, as intrigas políticas e investigações policiais só se tornam ainda mais interessantes de acompanhar por conta de seu distanciamento do resto da sociedade.

O nome original da série, “Zone Blanche”, se refere ao fato de Villefranche estar em um território sem muita cobertura de sinal, efetivamente isolando-a do contato com o mundo moderno. Não haveria, portanto, um ambiente melhor para se trabalhar a sobrenaturalidade que permeia esta narrativa, especulando sobre as influências de mitologias antigas e misticismo de formas ceticamente contemporâneas. Labirinto verde é uma série que dedica muito de seu tempo aos casos procedurais encarados pela equipe policial local, mas nunca deixa de lembrar o espectador da atmosfera sobrenatural que assola esta misteriosa zona florestal.

No entanto, aqueles que encontrarem a série esperando um desenvolvimento acelerado e um aprofundamento entusiasmado destes elementos fantasiosos podem facilmente se frustrar. A produção francesa da Netflix demonstra ter um plano longo, talvez longo demais para alcançar todo o impacto que poderia, além de correr o risco (como sempre) de invalidar boa parte de seus esforços caso não consiga concluir suas propostas adequadamente. O desenvolvimento desta trama geral envolvendo uma espécie de divindade celta relacionada à natureza é progredido sem a menor pressa, e por boa parte dos episódios, o espectador só verá perguntas sendo adicionadas à pilha, sem qualquer resposta produtiva.

Mas, pelo menos, esta segunda temporada se mostrou mais determinada a avançar seus grandes mistérios do que a primeira. Antes, a trama principal da temporada era bem mais objetiva, tratando do assassinato da jovem Marion. Com o caso finalmente solucionado, este segundo ano explora as consequências desta investigação, e coloca a busca de Lauréne (Suliane Brahim) pela tal divindade em primeiro plano com mais frequência. Ainda assim, eventualmente, o espectador precisará se manter paciente enquanto a série deixa este desenvolvimento de lado para lidar com, por exemplo, um surto de abelhas assassinas…

Parte desta paciência vem justamente da falta de relações mais claras entre os casos-da-semana e os elementos místicos da série. Paralelos podem ser traçados aqui e ali, como supor que o surto de abelhas faz parte da “fúria da natureza” que pode ser interpretada ao longo desta narrativa. Indo mais longe, também poderia-se especular que a sobrenaturalidade da floresta teria alguma influência no comportamento psicopático de certos habitantes desta remota cidade.

Porém, Labirinto Verde não está tão interessada em exibir estas relações tão claramente quanto muitos espectadores poderiam esperar, e acaba sendo uma série muito melhor aproveitada em doses contidas. Os episódios são longos e apresentam histórias fechadas que são, normalmente, gratificantes por si só, podendo entreter o espectador sem necessariamente avançar com entusiasmo a grande busca da protagonista. E uma vez que se esteja plenamente envolvido com o ambiente e as dinâmicas destes personagens recorrentes, o mistério sobrenatural acaba soando como um adendo instigante para suas rotinas conturbadas.

A construção de universo e a consistência atmosférica de Labirinto Verde acabam sendo seus melhores aspectos, encorajando a disposição do espectador apesar desta proposta procedural. É empolgante perceber o quanto uma simples dona de um bar/motel pode saber bem mais segredos do que se imagina, assim como o desenvolvimento de um grupo rebelde como os “Filhos da Arduinna” enriquece as delicadas relações desta comunidade. E para aprofundar as discussões ambientais propostas pela série, temos o duelo entre pai e filho da família Steiner, que atinge seu ápice nesta segunda temporada.

A direção da série traz diversas sequências mesmerizantes que capitalizam em cima do ambiente sombrio desta história, e produz momentos de tensão bem orquestrados em meio às possibilidades de se resolver algum mistério. Igualmente cativantes, diversos quadros mais expressivos tornam esta experiência mais memorável, seguindo o padrão de fotografia comum às séries francesas que costuma ser bem mais entusiasmado e relevante do que em boa parte das produções americanas.

Este progresso cadenciado de Labirinto Verde é justamente o fator que poderia torná-la menos recomendável durante sua primeira temporada, uma vez que aqueles que não estivessem completamente cativados pelos casos da semana, provavelmente não se contentariam em gastar todo o tempo necessário para completar os oito longos episódios. Esta segunda temporada acaba validando este esforço, e expande seu alcance com o público, ainda que continue tendo um longo caminho pela frente até responder todas as questões levantadas até então.

Mas agora, para quem já assistiu ambas as temporadas e acompanhou a história até aqui, não tem mais volta, e Labirinto Verde definitivamente precisa de um terceiro ano para retomar esta exploração mitológica que, julgando pelo ritmo visto no final desta segunda temporada, pode tornar a série muito mais chamativa para o público internacional da Netflix.

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