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Mr. Robot | Crítica - 4ª Temporada - Episódio 1

O cinismo de Mr. Robot está de volta com força total nesta quarta temporada, para encerrar a série com o impacto necessário. O objetivo por aqui é, claramente, retomar o sentimento de inquietação que os planos de Elliot proporcionavam ao espectador, e embora ainda possamos apenas especular os rumos desta temporada, ao menos podemos aproveitar o retorno das excelentes interações entre o protagonista, e sua peculiar personalidade alternativa. 

Ame ou odeie, é impossível negar que Sam Esmail se tornou uma das vozes mais interessantes de se acompanhar na televisão atual. Sua abordagem pode nem sempre agradar espectadores menos dispostos a suportar suas constantes maquinações mirabolantes, mas o resultado entregue por Mr. Robot tem sido bem mais positivo do que negativo, quando se fala sobre as reflexões propostas pela série, e principalmente, sobre suas construções visuais. Continua sendo um prazer acompanhar a dinâmica de cenas específicas onde ambas as “personalidades” de Elliot ocupam e se movem pelo mesmo espaço, reconhecendo a realidade da situação conforme a direção indica ao espectador. 

As últimas temporadas tiveram dificuldade para causar o mesmo impacto que Mr. Robot gerou em seu primeiro ano. Era evidente que a grande reviravolta da primeira temporada seria dificilmente superada por qualquer desenvolvimento subsequente, mas ao menos, o universo da série foi expandido e explorado o suficiente para que esta última leva de episódios tenha material de sobra para construir uma conclusão satisfatória para seus ambiciosos argumentos sobre uma sociedade distópica, que soa cada vez mais incomodamente próxima. 

Se bem me lembro, Esmail havia comentado, anos atrás, que a trama de Mr. Robot havia sido originalmente pensada para um longa-metragem, e portanto, aquela primeira temporada consistia apenas do que seria o primeiro ato deste roteiro. Logicamente, poderíamos encarar a segunda e a terceira temporada como o suposto segundo ato, e compreender, assim, a sensação de alongamento que chegou a incomodar alguns espectadores menos impressionados com o trabalho estético da série por si só. 

E depois de um hiato de dois anos para reorganizar as ideias (e deixar que Rami Malek seguisse com seus outros trabalhos) esta terceira temporada, portanto, tem a difícil missão de retomar tudo que vimos até aqui, para poder entregar uma resolução à altura das perguntas que foram sendo feitas por Elliot ao longo de toda a série. Afinal, existe qualquer sentido em seguir lutando em um mundo como este? Onde figuras cujo poder é quase absoluto, e a influência não pode nem mesmo ser medida? O final da terceira temporada serviu para desanimar ainda mais estes esforços, concluindo que por mais rebelde que possa parecer qualquer atitude do protagonista, tudo não passará de uma mera etapa de planos maiores, feitos por quem detém o poder neste curioso universo. 

O maior trunfo de Mr Robot continua sendo este toque de excentricidade que mantém uma espécie de “realidade aumentada” para as tramas da série. O exemplo mais simples para ilustrar esta abordagem é a maneira como os personagens se referem à “E Corp” como “Evil Corp”, mas são as representações de poder do “Dark Army”, e os diálogos internos de Elliot que mais chamam a atenção, e proporcionam um espaço incrivelmente produtivo para que a série possa discorrer sobre certos assuntos sem precisar se ater à circunstâncias limitadoras. Em partes, é como se fosse uma medida calculada do distanciamento aproveitado pela ficção científica. 

Mas se a série parecia um tanto absurda em suas especulações sociais durante seu começo, o estado atual do mundo real acabou deixando Mr. Robot bem mais mundana do que poderíamos imaginar, e isso só torna a missão desta última temporada, ainda mais difícil. Impactar o espectador que vem acompanhando escândalos como o da “Cambridge Analytica” ou as várias discussões sobre figuras políticas atuais, vai ser bem mais complicado para Sam Esmail, mesmo com sua realidade aumentada. 

Este primeiro episódio talvez não seja ainda o grande chamariz que trará de volta aqueles espectadores que estavam cansados de tentar entender as várias reviravoltas da série, mas com certeza já soa como um passo na direção certa, com um começo relativamente direto ao ponto, e um redirecionamento do foco narrativo, deixando para retomar algumas tramas paralelas mais para frente na temporada. Para aqueles que estavam plenamente inseridos neste universo, e aguardavam ansiosamente por seu retorno, no entanto, este foi um episódio espetacular, com tudo que passamos a esperar da série, e um gancho final que com certeza garantirá o retorno para o próximo capítulo. 

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