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The Expanse | Crítica - 4ª Temporada

The Expanse se transformou em um fenômeno do tipo ‘fan favorite’. Desta maneira, houve certa lamentação e decepção ao final da terceira temporada no ano passado, que representava o fim do contrato da série de televisão. Porém, a Amazon Prime Video não deixou os fanáticos desta produção chupando o dedo, dado que assinou um novo contrato de direitos, e que já se encontra disponível para o assinante da provedora mundial via streaming, não apenas as três primeiras temporadas, como a mais recente destas, que continua a mostrar a exploração espacial dos personagens Joe Miller (Thomas Jane), James Holden (Steven Strait) e Chrisjen Avasarala (Shohreh Aghdashloo).

Na quarta temporada, vemos o início de um novo capítulo na exploração espacial a bordo da tripulação do Rocinante que busca investigar mundos além do Portão do Anel, sendo o planeta Ilus sua primeira parada. Descobrindo que existem milhares de planetas similares ao planeta Terra, fez com que a humanidade inicia-se uma caçada pela colonização destes corpos celestes espalhados pelo vasto universo, aumentando as tensões existentes entre a Terra, Marte e o Cinturão. Chegando em Ilus, percebe-se que os novos colonizadores não estavam preparados para a missão e os perigos naturais deste novo planeta descoberto.

Talvez, a primeira coisa que vem a cabeça quando pensamos filmes/séries no espaço, seja o aspecto visual deste. Muitos artistas de variados estilos e escolas diferentes pensaram o espaço de maneiras peculiarmente singulares. Se Star Wars de George Lucas é o símbolo mais popular do espaço – vide a colossal expectativa que se instaura a poucos dias do lançamento de episódio IX Star Wars: A Ascensão Skywalker – , o clássico venerado 2001: Uma Odisseia no Espaço é o pilar de referência que mudou os paradigmas além de filmes que retratam o infinito estelar.

Não tenha dúvida que The Expanse, não é nada mais, nada menos que uma grande bouillabaisse feita à base de outras séries e filmes que rondavam este nicho, como por exemplo: as séries de TV Star Trek, Perdidos no Espaço, Babylon 5; e obras cinematográficas, como Alien: O Oitavo Passageiro, Gravidade, Interestelar, e o mais recente, o belíssimo Ad Astra: Rumo às Estrelas.

Mesmo não sondando novos parâmetros nas estrelas, a série desenvolvida por Mark Fergus e Hawk Ostby consegue trilhar seu próprio caminho, e o faz especialmente, quando comenta situações sociais que se assemelham com a nossa realidade mundial dos dias recentes, como no sexto episódio chamado Deslocamento, onde logo no comecinho vemos James Holden, um dos protagonistas de The Expanse da Amazon Prime Video, literalmente, no meio entre duas multidões opostas como um juiz de boxe separando dois lutadores enfurecidos.

Óbvio, que existe um elemento de ‘kitsch’ nessa cena – e que poderia ter sido melhor encenada pelos grupos discordantes – , contudo, é inegável a similitude com nossa disparidade social. A série de Fergus/Ostby cria mais uma oportunidade de olharmos no espelho e testemunharmos a calamidade e tragédia de nossa realidade. O retrato de uma sociedade sem diálogo e preguiçosa demais para conseguir estabelecer meios-termos na tentativa de uma base mais saudável.

Antes do episódio seis (Deslocamento), a série da Amazon Prime Video não segura o fio narrativo com tanta firmeza. Sim, há bons momentos na primeira metade da quarta temporada, como a parte final do segundo episódio (Carga à deriva) com uma misteriosa tempestade de raios que cai no planeta Ilus. E, que também nesta parte observamos uma disposição estética diferente, que lembra em alguma coisa o trabalho de H. R. Giger (1940-2014), famoso pintor e escultor suíço responsável pela direção de arte dos filmes da franquia Alien, incluindo a criação da figura monstruosa que aterrorizou os tripulantes da nave Nostromo na obra de 1979.

No quinto episódio (Opressor) também encontramos outros dois bons momentos: o primeiro, que vêm através das relações de dois casais, Amos Burton e Wei, meio que shakespearianos, à la Romeu e Julieta; e Lucia e Jakob, sendo que a primeira faz parte de um atentado que foi a faísca que acendeu o planeta Ilus em chamas, levando a população a agir com violência.

Agora, o segundo momento tem um viés político interessante, que se encontra no debate entre Avasarala – interpretada por Aghdashloo que tem a voz de fumante de Nair Bello, com o vocabulário desbocado de Dercy Gonçalves – e Nancy Gao, sua opositora política. As visões de ambas sobre a exploração espacial, deixam claro suas posições de estilo de governabilidade, do tipo conservadora e progressista, respectivamente.

Mas, é a partir do sétimo episódio (Tiro no escuro) que as coisas realmente começam a esquentar em The Expanse da Amazon Prime Video. A topografia do astro Ilus se transforma bruscamente, e agora, os habitantes se encontram em uma situação que não podem escapar da presença uns com os outros. Tendo que se refugiar para sobreviver diante de catástrofes naturais (tipo os filmes de desastre feitos pelo cineasta Roland Emmerich), e outros tipos de pragas que se possa imaginar, que incluem, uma doença que ataca os olhos que ficam com coloração esverdeada, e uma lesma tóxica mortal.

No oitavo episódio (Quem tem um olho), nos deparamos com o mais melancólico e apreensivo de toda a série, aqui o tom é bem soturno, principalmente pela solidão e culpa de James Holden, e o desespero de Amos Burton.

Nos momentos derradeiros, The Expanse deixa um gostinho de quero mais. E, para a alegria dos fãs, está garantido uma quinta temporada, planejada para o ano que vem. Aparentemente, só abaixaram as armas, mas o acordo de paz entre Terra, Marte e o Cinturão se encontra ameaçado por situações que se encontram muito obscuras. Bobbie Draper (Frankie Adams) está envolvida até o pescoço em algo muito mais perigoso do que imaginava, e agora, precisará convencer outros de que algo poderá dividir as águas nas relações diplomáticas dos interessados.

Se na próxima parte que chega em 2020, conseguir equilibrar melhor sua narrativa cheia de plots, e abarrotada de personagens, a série de produção original da Amazon Prime Video irá cruzar fronteiras ainda mais distantes, o que pode gerar um trabalho com mais qualidades. Basta continuar ousando, que seguirá por um bom caminho.

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