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Crítica | Crise nas Infinitas Terras

A CW não é perfeita. Não é a melhor produtora de séries de TV aí no mercado, não é conhecida por sua sofisticação, muito menos sua sutileza ou valores de produções em suas obras; mesmo aquelas do universo da DC, que na década passada receberam a alcunha de Arrowverso, após a série do Arqueiro Verde estrelada por Stephen Amell iniciar uma nova era de adaptações em quadrinhos nas telas: tudo o que a Marvel fez no cinema com sua saga dos Vingadores, a DC conseguiu fazer na televisão – enquanto patinou no cinema.

Grande parte desse sucesso está nos chamados crossovers: os heróis de Arrow, The Flash, Supergirl, Legends of Tomorrow e a recém-chegada Batwoman anualmente se encontram para longos arcos de episódios múltiplos. Todo ano, é o grande destaque do Arrowverso, com grandes batalhas, viagens no tempo e até trocas de corpo já tendo acontecido. A CW certamente sabe como se divertir, e mesmo sendo bobinha, é excepcional na forma como entrega o fan service que os admiradores da DC não puderam ter no cinema. Uma delas, claro, é o mais novo crossover da emissora: o ambicioso Crise nas Infinitas Terras, que representa não apenas o maior evento do Arrowverso, mas talvez de qualquer produção audiovisual da DC.

Seguindo os conceitos estabelecidos em Elseworlds, o novo crossover conta com o retorno do misterioso Monitor (LaMonica Garrett) que está rapidamente reunindo heróis de diferentes Terras (realidades paralelas) do Arrowverso. Uma força cósmica conhecida como Anti-Monitor está destruindo diversos mundos em um trajeto letal, ameaçando toda a existência do multiverso e incontáveis vidas são perdidas. Assim, o Arqueiro Verde (Stephen Amell) lidera uma super-equipe com Flash (Grant Gustin), Supergirl (Melissa Benoist), Batwoman (Ruby Rose), Raio Negro (Cress Williams), Superman (Tyler Hoechlin), Lois Lane (Elizabeth Tulloch, Lex Luthor (Jon Cryer), Átomo (Brandon Routh), Sarah Lance (Caity Lotz), John Constantine (Matt Ryan), entre incontáveis outros. É o Ultimato do Arrowverso, para resumir.

Dessa vez, a CW não poupou esforços. Não se trata apenas de reunir as diversas figuras que se encontram no universo das diferentes séries da emissora, mas sim da exploração do multiverso da DC. A ideia é trazer alguns dos atores responsáveis por papéis icônicos na história da editora na TV: Tom Wellington (Smallville), Burt Ward (a série clássica do Batman), Kevin Conroy (eterno dublador do Cavaleiro das Trevas), alguns integrantes de Titãs e Patrulha do Destino – que compõem a nova fase da DC em seu serviço de streaming próprio – e até mesmo uma inesperada aparição de Ezra Miller como o Flash de Zack Snyder, em um raro crossover de TV e cinema. É algo que nunca foi realizado no gênero de super-heróis, e que representa um fan service praticamente inconsequente em termos de história, mas definitivamente capaz de provocar sorrisos. 

Um espectador casual, que nunca assistiu nada da CW, pode facilmente sintonizar e assistir as 5 partes. Isso certamente é uma vantagem, já que o texto (às vezes expositivo demais) consegue sintetizar em que momento encontramos cada um dos heróis, explicitar seus dramas, qualidades e – graças ao carisma inegável de seus intérpretes – nos fazer importar com eles quase que instantaneamente.

A segunda parte da Crise ganha destaque por se concentrar em duas versões “alternativas” (de múltiplas Terras, como nos ensina o roteiro) de heróis clássicos. Reprisando o papel de Superman: O Retorno, Brandon Routh tem a oportunidade de realizar a continuação do filme de 2006 que nunca existiu, incorporando elementos da lendária HQ Reino do Amanhã enquanto se equilibra com o estilo de humor mais leve da emissora. Ao mesmo tempo, a visita de Supergirl e Batwoman a um amargurado Bruce Wayne de Kevin Conroy garante um dos momentos mais sombrios e interessantes do crossover, já que vemos um ex-Batman assassino e pessimista, e que ainda traz referências explícitas ao retrato de Ben Affleck em Batman vs Superman. 

Por falar no conflito do Cavaleiro das Trevas com o Homem de Aço, o grande destaque entre os personagens de Crise nas Infinitas Terras certamente fica com as primas dos heróis. Ruby Rose e Melissa Benoist têm uma química sensacional, e o roteiro é inteligente ao inverter os papéis geralmente associados a suas personagens: Supergirl está menos esperançosa e mais pessimista, enquanto Batwoman começa a entender seu papel como uma força do bem e otimismo – um reflexo também de sua visita ao Batman de Conroy. Tal dualidade quase culmina em um novo BvS entre as heroínas, mas a força do diálogo as impedem de sair no soco.

E, claro, temos que falar sobre Oliver Queen. Desde o começo sabíamos, que Crise nas Infinitas Terras seria a grande despedida de Stephen Amell como o Arqueiro Verde, até porque Arrow já tinha sua temporada final anunciada e programada para ser exibida juntamente com o crossover. Visto que o herói foi o responsável por iniciar a franquia televisiva (tal qual Robert Downey Jr. com o Homem de Ferro no MCU), é claro que o herói ganha uma despedida emocional e digna de um sacrifício, que já havia sido estabelecida pelo Monitor em Elseworlds. Amell deve sua carreira ao papel, e seu carisma e respeito pelo personagem fica bem evidente em suas passagens finais, que transformarão o futuro do Arrowverso e prometem caminhos empolgantes.

Claro, Crise ainda conta com os mesmos problemas do Arrowverso. Por ser uma série de TV aberta e sem um grande investimento como produções de streaming ou uma HBO da vida, o crossover conta com momentos de “defeitos especiais” que deixam bem claro o tamanho do orçamento, seja nas cenas de voo entre as diferentes versões do Superman, os raios a laser de diferentes heróis, maquiagens borrachudas ou até mesmo os enquadramentos que nitidamente tentam emular outras produções do gênero – e que acabam passando a sensação de breguice, até pela estética mais simples dos uniformes.

No fim, Crise nas Infinitas Terras é o mais grandioso e saboroso crossover da História do Arrowverso, e também uma das apostas mais ousadas que a TV aberta já fez. Mesmo que sofra com alguns problemas técnicos e beire a breguice em diversos momentos, é uma perfeita homenagem não apenas para quem acompanha as séries da CW, mas para todos os fãs da DC. 

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