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O Mundo Sombrio de Sabrina | Crítica - Parte 3

Em sua terceira parte, O Mundo Sombrio de Sabrina já começa a soar como uma série corriqueira dentro do acervo da Netflix. No entanto, os produtores parecem ter, felizmente, sentido o perigo da estagnação se aproximando, e decidiram incorporar uma bem-vinda expansão na mitologia deste universo de bruxarias e criaturas sobrenaturais. 

Mesmo sem divulgações de audiência, é seguro supor que a primeira temporada de O Mundo Sombrio de Sabrina foi um sucesso produtivo para a Netflix, com a série conquistando a atenção de um público considerável, e passando ilesa pelas críticas em geral, sem muitos problemas. Com a sua proposta inicial de adaptar a “bruxinha adolescente” para uma versão mais sombria, a série conseguiu manter o tom apelativo de Riverdale (sua referência principal), ao mesmo tempo em que procurou preservar o seu impacto como uma série mais elaborada do que se vê na TV aberta americana. 

Mas depois de duas partes, a proposta principal para a trama de Sabrina (Kiernan Shipka) parecia estar relativamente concluída, tendo contado as “origens” da personagem de forma satisfatória, e encerrado seu embate com o grande vilão da série, até então (já podemos nos contentar, pelo menos, com o fato da série não ter alongado, indefinitivamente, a trajetória até a chegada de Lúcifer). Sendo assim, esta nova parte precisava demonstrar o potencial da série para ir mais a fundo em seu universo, e na evolução de uma protagonista que já não contará mais com o mesmo arco de “amadurecimento adolescente” que vinha dominando a trama. 

De início, no entanto, a terceira parte ainda tem algumas pendências para resolver com os ganchos deixados durante o último episódio, e acompanha Sabrina tentando recuperar seu namorado do inferno, onde este está sendo torturado pela nova governante interina, Lilith (MIchelle Gomez). O desgaste do universo já começa a ser sentido por aqui, e pessoalmente, eu estaria mais interessado em acompanhar Prudence (Tati Gabrielle) e Ambrose (Chance Perdomo) em suas caçadas pelo mundo, do que retomar os mesmos conflitos de antes, mas pelo menos, já é possível perceber como Sabrina soa mais determinada e audaciosa para as novas tramas da temporada. 

O novo conflito, então, gira em torno do cobiçado trono do inferno, onde Sabrina precisa se assumir como a nova regente, mas não antes de ter que encarar o desafio de um novo pretendente ao trono, chamado Caliban (Sam Corlett). O personagem não é muito diferente do que o seu arquétipo costuma apresentar em tantas outras produções direcionadas ao público jovem-adulto, sendo pouco mais do que um antagonista atraente e charmoso que flerta com a protagonista durante os embates… 

Mas meus medos de que a série pudesse acabar estagnando por falta de conteúdo em sua mitologia foram sendo aplacados pela introdução de um novo grupo de antagonistas, gerando ameaças em duas frentes diferentes para Sabrina e seus amigos, e permitindo a exploração de novo elementos macabros para preencher os episódios desta temporada. O grupo é formado por artistas de circo que logo se revelam como bruxos pagãos, trazendo uma revigorante oposição à “igreja” de tia Zelda (Miranda Otto) e suas adorações satânicas. 

Os episódios de O Mundo Sombrio de Sabrina continuam sendo um tanto longos demais para a proposta da série, mas parecem mais aproveitáveis com uma temporada que traz apenas oito capítulos de cada vez. Cada episódio tem sua trama própria, seguindo um modelo comum à TV aberta americana, mas sempre prezando a progressão da trama geral com todo o entusiasmo que os formatos da Netflix permitem. 

Por um lado, sempre temos algumas tramas que servem como “fillers”, muitas vezes quebrando o ritmo da história principal, ou acrescentando desenvolvimentos um tanto irrelevantes que poderiam ser resolvidos com bem mais eficiência para a narrativa. Por outro lado, no entanto, o formato permite que a série entregue algumas sequências interessantes que aproveitam o potencial do lado mais aterrorizante deste universo. 

E tal qual já havia notado nas temporadas anteriores, o trabalho estético de O Mundo Sombrio de Sabrina continua sendo um grande atrativo para o seu público alvo. Os figurinos e maquiagens dos antagonistas continuam trazendo eventuais boas surpresas, assim como a ambientação destas sequências mais tensas também se destaca, principalmente para séries deste gênero e de proposta jovem-adulta. 

O tom aterrorizante, no entanto, entra um contraste ainda mais desconfortável nesta terceira parte, por conta das tentativas de se apresentar números musicais com mais frequência. Antes, o desequilíbrio tonal costumava vir por conta dos focos em romances desinteressantes e diversas cenas de flerte e sexo, inseridas para preencher os requisitos da proposta. Desta vez, estes focos parecem melhor alocados, e não soam tão gratuitos quanto as apresentações de líderes de torcida cantando músicas pouco condizentes com os rituais satânicos que acontecem em volta. 

E conforme se aproxima da conclusão, esta terceira temporada consegue demonstrar que O Mundo Sombrio de Sabrina ainda possui potencial para continuar a jornada de sua protagonista com novas ameaças que não precisam vir, necessariamente, do quinto dos infernos, mas que ainda fazem parte do conceito de “bruxaria” e que trazem elementos empolgantes de diferentes interpretações desse conceito. 

A série ainda precisa, no entanto, manter-se atenta à consistência das evoluções de seus demais personagens, e não deixar que a necessidade de novas histórias faça com que certas construções acabem sendo deixadas de lado. Rosalind (Jaz SInclair) e Harvey (Ross Lynch) servem como bons exemplos para este ponto, uma vez que suas tramas da temporada passada (envolvendo o passado de suas famílias) passam por pouquíssima evolução, nesta nova leva de episódios. 

Em geral, O Mundo Sombrio de Sabrina continua entregando tensão, descontração e sequências visualmente chamativas o suficiente para agradar qualquer espectador que já vinha acompanhando a série até aqui. Para todos aqueles que não haviam se sentido atraídos pela série, no entanto, esta terceira parte não eleva este universo à escala que ele ainda pode alcançar, caso os roteiristas consigam estabelecer um caminho mais construtivo para as próximas temporadas. Ao menos, é possível perceber que existe uma atenção em tentar agradar um público amplo, testando diferentes abordagens para as aventuras de Sabrina, e preservando aquilo que a série vem fazendo de melhor. 

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